Atalhos

As pessoas, no geral, querem ter a vida facilitada em inúmeras coisas. Querem ganhar dinheiro fácil, querem progredir na carreira de um ano para o outro, querem perder o peso todo num mês. Então, decidem atalhar. Decidem escolher o caminho mais fácil, o que lhes parece mais simples, o que acham ser apenas o indispensável para atingirem os seus objetivos, com pouco esforço. O que é que normalmente acontece? Várias coisas. Por um tempo, pode parecer que estão no bom caminho, mas isso não passa de uma ilusão. Os atalhos são inimigos da consistência, da resiliência e da superação. Os atalhos são fantasias da nossa cabeça, são perdas de energia, de dinheiro, de tempo. Eu escolhi os atalhos durante a minha vida inteira: batidos, sumos, fome, dias de asneira, falando apenas de perda de peso, claro! Agora não há atalhos, há só três coisas: alimentação, treino e descanso. Vá, também há alguma suplementação e massagens, mas tudo com conta, peso e medida. Quem atalha num determinado aspeto, atalha na vida. E o que pode parecer aliciante, não passa de uma manobra de diversão autoinduzida.

Boicote

Escrevi, um dia, sobre o autoboicote. Escrevi e voltaria a escrever cada palavra (à exceção do Snickers, claro está)! O autobocoite, as desculpas que arranjamos para não comer bem, para não treinar, são mais de muitas. Eu conheço-as a todas e usei-as milhares de vezes. Este foi um processo que me levou anos. Parar de comer às escondidas, parar de me enganar, parar de dizer que era só mais uma vez. Parar.

Hoje acho que já não me boicoto. Acho não, tenho a certezinha absoluta. A luta agora é outra: é não deixar que me boicotem. As pessoas lidam mal com a mudança. Quando se habituam a ver-nos de uma maneira, normalmente uma maneira mais contida, custa-lhes a aceitar-nos de outra. Por isso, envergam a bandeira do boicote. E toca de investir num desencorajamento sem fim.

Às vezes é de forma inconsciente, não digo que não, mas as pessoas, de um modo geral, adoram ver até onde vai a nossa obstinação. Morrem por testar o ponto pelo qual vergaremos. Tenho sentido muito isso. Tenho sentido isso todos os dias, aliás. E, confesso, já me chateou mais. Agora é só ruído. Agora é só mais uma quase queda, um quase desconforto, um quase desgosto.

Porque há uma coisa que eu aprendi, e não me importo nada que me apelidem de egoísta: as minhas decisões têm de ser boas, em primeiro lugar, para mim. Porque foi por não me pôr em primeiro lugar, e por ter querido sempre agradar à opinião dos outros, que deixei que o meu amor-próprio se arrastasse na lama.

Não quero dizer com isto que para se perder peso, mudar de vida e se ser bem sucedido numa série de coisas se deva pisar alguém, nada disso. Só digo que se tomamos uma decisão a devemos assumir, aceitando que haverá quem não concorde, sabendo que haverá quem tente dissuadir-nos. Nem sempre é por mal, que fazem isso. Às vezes é só medo. Medo alheio. O medo também é uma escolha. Não a minha. Não mais.

De volta!

Estes dias de férias souberam-me a pato. A um pato com redução em vinho do Porto ou isso, daqueles todos XPTO, feitos por um chef de cozinha à séria. Consegui mesmo desligar daquilo que é a minha vida doida e usufruir das aulas de surf, do ioga e de imensas conversas boas, com gente já conhecida e com outra que conheci lá. Lá, em Aljezur, onde tudo é lindo, onde todos são simpáticos e têm um ar feliz. Eu andei como quis: despreocupada de todo, de roupa larga, sem maquilhagem, sem sapato no pé. Estavam previstos dias maus, mas eu sou filha da sorte e o sol brilhou que se fartou. No meio destas atividades programadas, tive ainda espaço para pensar nos meus projetos e para os escrever. Esperam-se novidades bem boas, aviso já! Mas pronto, acabou. Está na hora de largar o chinelo, a cara lavada e o cabelo por arranjar. Está na hora de voltar a vestir a roupa do dress code e a ter um ar sério (dentro do meu género). Confesso que adorei estes dias. Foram melhores do que sonhei. Agora só volto a eles em julho. Que Deus Nosso Senhor me ilumine. Iluminará!

I’m off!

Vou fechar para balanço, que é como quem diz: VOU DE FÉRIAS! Os últimos três meses foram de cão. Por isso, os próximos dias serão de descanso muito merecido. Não darei notícias porque vou para um sítio onde o conceito é desligar. Desligar do telemóvel, das redes sociais. Vão fechar-me o telefone num cacifo, dizem eles! Não sei como vou aguentar, porque sou completamente dependente do meu telefone, mas, confesso, está a apetecer-me passar por isto. Vou dormir, fazer ioga, aprender a fazer surf?! e passear. Vou acalmar-me um bocadinho, que a este ritmo não chego a velha e era coisa que até apreciava. Falamos para a semana, ok?

3 meses sem açúcar?!

[Eu sou uma madrinha fixe! Pago gelados aos meus afilhados e fico a vê-los comer.]

Quando propus a mim própria deixar de comer açúcar, achando que seria uma missão impossível, pus na cabeça que levaria esta demanda a cabo durante 6 meses.

Queria perceber o que aconteceria se não comesse nada com açúcar processado. Mais do que perceber o que me aconteceria fisicamente, eu estava tentada a começar isto pela paz interior.

Eu fui dependente de açúcar muitos anos. Nos picos das minhas crises de compulsão alimentar, um litro de gelado era facilmente mandado abaixo por mim. Tabletes de chocolate inteiras, refrigerantes.

Alimentos cheios de açúcar que me davam uma falsa sensação de calma e bem-estar, que depois me levavam para ressacas de dias a fio. Os dias seguintes eram muito duros, mesmo, porque queria comer mais.

Mas não era só nestes momentos de crise que o açúcar dava cabo de mim. Nas dietas em que havia o tão famoso dia da asneira, era ver-me a devorar sacos de gomas e bolos.

Mais uma vez, os dias a seguir eram de morte. Voltar à dieta era quase impensável. Era uma tortura. Era ali que eu começava a falhar, a querer desistir. Eram as ressacas do açúcar que me faziam isso.

Pois que desde janeiro não há nada disso. Não há apetites loucos, não há desejos fora do normal, não há incumprimentos no plano. Não há nenhum tipo de ansiedade em relação à comida.

E se o açúcar está sempre à minha volta: bolos de aniversário dos miúdos, por exemplo, há todos os dias. Até tenho ido comprar comprar doces para lanches e afins.

As minhas escolhas não são as delas e está tudo bem. Por mim? Por mim está tudo bem. Desde que me respeitem e entendam que estou melhor assim. Passados três meses está tudo mais calmo. Sobretudo as opiniões. Haja Deus!

Bootcamp New Me

Hoje conheci um projeto novo. Um projeto em que comecei a acreditar no primeiro segundo em que ouvi falar dele. É um programa que se destina a ajudar pessoas que têm questões alimentares. Seja porque comem mais do que precisam, seja porque comem menos do que devem, seja porque não se relacionam de forma tranquila com a comida. Eu, que sofri com um distúrbio alimentar durante mais de 10 anos, gostava de ter sabido disto.

O programa NEW ME é um programa inovador, de reeducação alimentar, que trabalha três vertentes fundamentais: a Nutrição, o Exercício Físico e a Psicologia. Quantas vezes se desiste de uma dieta por não se saber bem o que comer? Quantas vezes se paga uma inscrição no ginásio sem se pôr lá os pés? Quantas vezes quem quer mudar se sente desacompanhado?

Neste sentido, este programa tem como objetivo promover uma mudança de hábitos de vida, bem como uma transformação corporal, aliando o exercício físico, à nutrição e à psicologia motivacional – os três pilares fundamentais. Uma espécie de suporte em rede, que possibilita o desenvolvimento de competências absolutamente necessárias a uma mudança de vida duradoura.

Da experiência na área, surgiram os Bootcamp NEW ME, que têm como principal objetivo dar início à mudança, trazendo quem quer mudar para fora de portas, numa experiência muito prática. No Bootcamp de três dias, estão incluídos workshops variados, idas ao supermercado para saber o que comprar, a preparação de refeições saudáveis e práticas, o treino da leitura de rótulos e de ementas para situações sociais.

Haverá também treinos físicos, onde serão ensinados alguns exercícios funcionais, para que depois do Bootcamp cada participante leve consigo algumas ferramentas nesta área. Para além disso, serão ainda partilhadas estratégias de inteligência emociona, que servirão como um primeiro suporte em fase de mudança.

Agora, algumas questões importantes:
Quando? O primeiro Bootcamp será nos dias 13, 14 e 15 de abril.
Onde? Na Companhia das Lezírias, em Samora Correia (tudo incluído).
Como me posso inscrever? As inscrições podem ser feitas através da página de Facebook da Clínica Marisa Rodrigues ou pelo email clinicamarisarodrigues@gmail.com.
Como posso obter mais informações? Nos links anteriormente partilhados.

Eu lá estarei, a dar o meu contributo e a sugar toda a informação que puder. Nunca é demais aprender sobre nutrição, nunca é demais conhecer novos treinos, nunca é demais a motivação para continuar este caminho que nunca está acabado. Mas que pode ser menos penoso, quando bem orientado. Quem vem comigo?

Aos poucos…!

Os meus últimos textos, e sobretudo as minhas últimas fotografias, têm-me trazido muitos comentários bons. Percebo, cada vez de forma mais real, que o meu testemunho dá esperança a quem quer mudar a sua vida, passando pela perda de peso e pela construção de um corpo mais saudável.

O que quero relembrar é que estou neste processo há mais de 4 anos! 4 anos são muitos dias, muitas horas de esforço. São muitas refeições limpas, são muitas flexões, muitos burpees, muitos agachamentos. Onde é que eu quero chegar? À realidade do dia a dia de quem quer perder peso.

Quando eu iniciei este processo, a ideia de ter abdominais marcados, como tenho hoje, era uma espécie de oásis. Eu sonhava com isso, mas não passava os dias a desejar que a minha barriga se tornasse, de repente, e como me disseram ontem, um ralador de cenouras.

O que que queria, quando comecei, era perder peso. Todas as semanas queria perder um bocadinho de peso. 1 quilo, 750 gramas. Esse era o foco. O foco não era fica imediatamente toda malhadona, isso iria trazer-me demasiada frustração, muita ansiedade. E disso, eu já tinha que chegasse.

Eu só comecei a ambicionar ter abdominais ou um rabo mais empinado, quando já tinha perdido (quase) todo o peso que tinha para perder. Não que ao longo deste processo não tenha tido a vontade de ficar tonificada, claro que sim e o exercício foi fundamental nisso, mas estes últimos extras, são mesmo, mesmo extras.

Isto para dizer que este é um processo que levou tempo, que me ensinou a saber esperar. É um teste à minha resiliência, todos os dias, e à minha capacidade de recomeçar a cada refeição, a cada início de treino. Tenho tanto orgulho na minha barriga de hoje, como nos primeiros quilos que perdi. Foram eles que me permitiram chegar aqui.

Ir abaixo!

Por causa deste post no Instagram recebi imensos comentários à minha força de vontade, à minha habilidade de superação e à minha capacidade de não me ir abaixo com comentários menos felizes. Deixem-me que vos diga que perdi a conta ao número de vezes que me fui abaixo. Ao longo destes anos todos, eu passei por momentos muito negros, de uma autoestima a zeros, de uma confiança quase nula.

Quem me conhece há muito tempo dirá que isto não é verdade, que eu sempre fui muito segura de mim. E fui! Nas amizades, nalgumas relações, na escola, no trabalho. Em tudo o que não dizia respeito a mim própria, enquanto mulher. Perante os outros eu fazia-me de forte, mas sozinha? Sozinha a minha cabeça não parava de me atormentar, de me fazer lembrar que todas as tentativas falhavam, que tinha fome, que odiava fazer dieta, que não queria mais passar fome.

Fui-me abaixo todas as vezes que voltei a engordar. E não só! Fui-me abaixo sempre que não resisti à comida e tive um e outro episódio de compulsão. Sempre que falhei uma dieta. Sempre que um par de calças me deixou de servir. Sempre que fui apelidada com as mais variadas alcunhas. Eu sempre liguei muito à imagem. Quem não liga? Por isso sofria por não ser como sonhava, mesmo que os meus sonhos fossem impossíveis.

Só não vai abaixo quem não é humano, quem não sente. Ir abaixo faz parte do processo. Aliás, faz parte da vida. A grande questão é: o que se faz depois disso? De que forma nos levantamos? Eu escolhi, e escolho todos os dias há quase 5 anos, cuidar de mim. Cuidar de mim implica comer bem, sem passar fome, mas a proibir-me de algumas coisas (não há milagres!), treinar tudo o que posso e rodear-me de gente boa, com quem troco boas experiências. Gente que não é tóxica, faço-me entender?

Pedem-me, muitas vezes, para explicar como me aguento, como resisto… Eu não sei explicar. Afinal, eu fui aquela que sempre comeu tudo, que sempre experimentou tudo. O que mudou? Acho que o paladar tem muita influência. Depois de 3 meses sem comer açúcar, confesso, já não me lembro do seu sabor. Não sinto vontade de comer doces! A cabeça também ajuda, claro. Definir muito bem aquilo que se quer, traçar um plano e estratégias para o concretizar. Isso é absolutamente fundamental.

Se hoje em dia ainda me vou abaixo? Oh lá se não vou! A grande diferença é que a tristeza já não me dá para comer e, por isso, o meu ir abaixo já não se reflete na minha imagem. Se estou em baixo vou dar uns socos (estou mesmo a falar a sério!), vou correr, vou ao cinema ou ponho a música muito alta e danço como louca. Ou digo a alguém de confiança que estou triste e peço um abraço. Também funciona. Resumo da história: toda a gente se vai abaixo, tal como todos têm dentro de si a capacidade de se superar. Basta querer e fazer por isso. Sem desculpas!

Pote de Banhas

A minha barriga foi sempre a parte do meu corpo que me entristeceu mais. Pote de Banhas foi uma alcunha que tive durante muito tempo. Po-te-de-Ba-nhas. Ouvir aquilo doía muito. Doía ainda mais pela sua origem. Eu gostava de um miúdo da minha turma. Ele era popular, giro, tinha imensas miúdas atrás dele. Eu caí na asneira de dizer a uma colega que gostava dele. Eu achava que ela era de fiar. Ela contou a toda a gente e, no dia seguinte, eu tinha um bilhete na secretária onde estava escrito, com a letra do tal tipo: Achas mesmo que eu ia gostar de um Pote de Banhas? Eu tinha 12 anos. Eu nunca me esqueci disto. Por isto, e por tantas coisas mais, eu tenho orgulho nestes pequenos quadrados que estão a nascer na minha barriga. Sei que quem sempre foi magro não consegue entender isto e eu aceito-o. Não é para essas pessoas que escrevo, desculpem. Escrevo para todas as pessoas que passaram ou passam pelo mesmo que eu passei e que sonham com o dia da mudança definitiva. A miúda de há uns anos nunca imaginou que isto fosse possível, mas foi. É!

Há uma parte má!

Perder quase 25 quilos tem muito que se lhe diga. Isto é coisa para dar trabalho durante anos a fio. Aliás, é coisa para dar trabalho a vida toda, mesmo!

Eu estou nisto há 4 anos e há quem diga, e eu concordo, que foi por ter feito isto com pés e cabeça que obtive estes resultados. Não tenho estrias, não tenho peles. Está tudo arrumado no sítio. Estou contente, confesso!

Agora, há uma parte péssima nisto tudo. Eu sempre fui doida por roupa, por sapatos, por maquilhagem, por cenas destas em geral. Os meus pais nunca me alimentaram muito estes vícios, mas até me iam comprando umas coisas.

A questão é que havia uma quantidade gigante de artigos que eu não usava, por não me sentir bem com eles: biquínis, calções, vestidos, blusas justas, saias, tops…! Eu, simplesmente, não usava nada disto. Não que não devesse, antes porque não me sentia bem.

E agora? Opá, e agora é todo um mundo novo de cenas para eu comprar. Eu, que tenho de cobrar os atrasados, tenho perdido a cabeça umas quantas vezes e derretido pequenas fortunas (dado o meu ordenado ser o que é) em coisinhas queridas.

A oferta é muita, o meu apetite por comprar não se fala e isto acaba por se tornar um jogo de auto-controlo quase ao nível de se fazer uma investigação.

Ontem, por exemplo, entrei na Zara só para fazer tempo, eu nem queria nada, e foi o que se viu. Ainda por cima, a senhora do provador era amorosa, afagou-me o ego, e eu saí de lá com, pelo menos, um par de calças a mais.

Ninguém me tinha avisado que quando se não é gordo se tem tantas opções. Eu não estava preparada para isto. É como se as lojas me chamassem. Como se os vestidos chorassem por mim, pobrezinhos. E eu, a quem sempre custou ignorar desgraçadinhos, lá os trago para um lar feliz e quentinho.

Que Deus Nosso Senhor nunca me dê uma conta recheada ou a minha vida dependerá de um segundo armário. Ou dê, olha, Ele que me dê uma conta choruda e será ver-me a desfilar este corpitxo num modelo diferente todos os dias.