Categoria: Diário

#mudaporti

Estou assim, seja lá como for, porque aprendi a dar ao meu corpo o que ele precisa, no que a alimentação e treino diz respeito. Mas não só: aprendi, e reforço essa aprendizagem a cada decisão, que cuidar de mim me faz sentir incrivelmente bem e tranquila comigo. E essa tranquilidade está acima de qualquer número na balança. Está na certeza de que faço o melhor por mim todos os dias.

Por que é que eu comi?

É muito difícil explicar uma crise de compulsão alimentar. Quando sentia vontade de comer, comia tudo o que me aparecessse à frente. Ou ia às compras e comia tudo em casa ou comia na pastelaria ou no restaurante em que entrasse.

Eu deixava de pensar racionalmente. Eu só queria acalmar aquela ansiedade, aquela fome sem medida. Eu só queria comer até me sentir completamente cheia. Fisicamente cheia. Eu só parava de comer, quando não conseguia comer mais.

Numa hora eu conseguia beber uma garrafa de coca-cola, dois folhados de carne, uma embalagem de quatro donuts e duas tabletes de chocolate. Cheguei a comer uma caixa de mini-bolas de berlim, numa pastelaria, e no minuto a seguir comer um menu grande do Mc Donald’s, um saco de nuggets, um gelado e um saco de gomas.

Comia tudo muito depressa, sofregamente. Eu queria fazer-me mal. Queria castigar-me. Porquê? Por muitas razões: porque tinha falhado mais uma dieta, porque me tinha zangado com alguém, por alguém me tinha magoado, porque tinha uma relação infeliz, porque me sentia mal comigo, porque não sentia nada.

Foram anos disto. Anos. De um descontrolo sem fim à vista. De fome, à frente dos outros, de compulsão, sozinha comigo. Um jogo duplo que me matava, de dentro para fora, que me impedia de ser quem queria ser. Um vício, escondido e perturbador, seguido por pesagens constantes, diárias, apenas para constatar o inevitável: eu continuava gorda.

Quando comecei a perceber que tinha um problema sério com a comida, que ia além da gula, comecei a registar por que razões comia e passei a identificar um padrão: eu odeio falhar e odeio que falhem comigo. Sempre que sentia a falha, comia.

Aos poucos, comecei a antecipar o meu comportamento e prever que a vontade de comer estava a chegar, o que acontecia normalmente ao final do dia. Por isso, comecei a marcar coisas para essas horas: cafés com amigos, explicações, o treino, uma caminhada à beira do rio, uma ida à praia depois do trabalho. No fundo, tentei manter-me ocupada e ter sempre comigo comida que eu pudesse comer, para que não houvesse nenhum tipo de desculpa.

Com o tempo, e com ajuda, estas crises foram desaparecendo. Lembro-me da última que tive: foi a da caixa das mini bolas de berlim, há cerca de dois anos. Vomitei a noite inteira, depois disso, e jurei que nunca mais passava por aquilo. Nunca mais me faria mal daquela maneira. Nunca mais. E tenho conseguido.

Ajuda trabalhar até tarde. Ajuda treinar à tarde. Ajuda ter uma lancheira cheia de coisas. Ajuda ver o meu corpo assim e perceber que há coisas mais gratificantes do que comer. É simples? Não, é um horror que parece não ter solução. É possível de tratar? É. Aqui estou eu, todos os dias, a dizer que é fazível.

Incentivo todos os que passam por isto a registar os motivos por que comem. Procurem encontrar um padrão. Procurem estar ocupados e acompanhados, nos momentos mais críticos. E pensem, mesmo que pareça missão impossível: isto não resolve nada, isto não me faz ser melhor, isto é uma merda, isto tem de parar. Eu vou parar. E vão parando. Até ao dia em que param mesmo.

Somos todos merecedores de melhor!

Durante muito tempo, não me achei merecedora de coisas boas. Achei que me devia contentar com o médio, médio menos, porque não estava à altura de mais. Balizava por baixo, diminuía-me, deixava que me engolissem viva. Recebo muitas mensagens de meninas-mulheres a contar o mesmo e a pedir-me força para mudar. Eu continuo neste caminho. Apesar do espelho me dizer que estou magra, na minha cabeça, muitas vezes, ainda sou a Joana de antigamente. Felizmente, estou rodeada de gente que gosta de mim e que me chama à terra. O mais importante desta mensagem é: independentemente do nosso peso, do aspeto do nosso corpo, do que for, somos todos merecedores do melhor. O melhor pode variar de pessoa para pessoa, tal como os conceitos que lhe estão associados. O que não podemos nunca, por razão nenhuma, é deixar que nos reduzam. Isto não tem nada a ver com se ser gordo ou magro, bonito ou feio, alto ou baixo, diz antes respeito a ser gente. Gente que sente e que, por isso, merece um tratamento justo e humano. O amor próprio e a cabeça arrumada são fundamentais nisto tudo. Para evitar relações tóxicas, de amizade ou de amor, para nos sabermos valorizar a fundo, de dentro para fora. Repito: somos todos merecedores de melhor! Todos! Que nunca nos esqueçamos disto.

O que é que eu tomo?

No outro dia uma amiga disse-me: sabes o que me perguntaram, por saberem que te conheço? O que é que tu tomavas para estares assim? Perguntei-lhe o que respondeu e ela disse: olha, que disparate!? Respondi que comias bem e treinavas muito, mas acho que não acreditaram.

Eu percebo. Eu própria não acredito, quando me ponho a dançar em frente ao espelho em cuecas e em sutiã. O meu corpo está tão diferente, que se não se tratasse de mim própria eu também duvidaria da minha seriedade. Mas esta é a mais pura das verdades: eu não tomo nada. Nenhum comprimido mágico me teria posto assim.

Eu como alimentos que gosto, que me fazem bem e treino todos os dias, muito e com afinco. Também faço massagens, bebo água e esfrego-me, todos os dias, de manhã e à noite, com um gel reafirmante, que uma marca me ofereceu. É isto. Não há nada para além disto, por muito que eu gostasse de dizer o contrário.

Há dias em que saio do meu plano e como batatas fritas, como hoje ao almoço, mas não tenho um dia fixo para que essa saída do plano aconteça. Se tenho um jantar durante a semana, pronto, essa é a refeição desviante. Tento que não aconteça mais do que uma vez por semana, mas, se acontecer, sou mais regrada no dia seguinte.

Controlo as quantidades que como, controlo o tipo de alimentos que como e os seus constituintes. Dou mais importância às proteínas e às gorduras boas, mas também como hidratos. Como muitos ovos, carne, peixe, marisco, arroz basmati integral e batata doce. Como fruta, mas não mais do que uma peça por dia. Como frutos secos, com moderação.

Nem sempre comi assim, nestes últimos quatro anos. Porém, por ter deixado o açúcar em janeiro, decidi afinar a minha alimentação ao pormenor para que os resultados fossem mais visíveis. Isto para dizer que tenho feito um caminho. Hoje em dia, já não quero perder peso. Como para estar nutrida, para me sentir atlética. É isso que me move.

Não tomo nada além da proteína de ervilha que bebo a seguir aos treinos. Tomo uns comprimidos para a queda de cabelo, mas diria que não entram para o caso. O meu corpo é fruto de tantas tentativas falhadas, como de dedicação. Sou a prova de que o esforço e a consistência, sem malabarismos, são a chave para o sucesso. Seja no que for. E tenho muito orgulho nisso!

Casa Nova, Vida (Ainda Mais) Nova

Saí de casa dos meus pais aos 25 anos, para ir viver com o meu namorado da altura. Aquela pareceu-me uma decisão acertada e fui em frente com ela. A nossa vida não foi muito fácil. Talvez não fossemos um casal suficientemente forte para vivermos juntos. Eu não era forte. Cedia muito, deixava que ele tomasse a maioria das decisões. Até na decoração da casa… Houve coisas que nunca tive como queria, porque não era possível. Também não tinha tanto poder económico como tenho. Trabalhava noutro sítio, que me pagava uma miséria, o que não facilitava as coisas. Aos 28 anos, decidi vir-me embora. Deixei para trás a casa e o (des)amor que vivia todos os dias. Não quis mais aquilo. Não querendo atribuir a culpa ao Tipo, porque é dar-lhe demasiado destaque, foi nesses anos que tive as maiores crises de compulsão da minha vida. Procurava na comida uma forma de preencher o vazio que havia em mim. Como se vivesse numa bolha de apatia, de alguma submissão e muita tristeza. Voltei para casa dos meus pais, porque não tinha outra forma de sobreviver (financeiramente e não só) e lá estive até sentir que estava completamente reconstruída. Até hoje, o dia em que finalmente tenho uma casa minha. Estes quatro anos foram mesmo muito importantes, porque a minha vida mudou radicalmente: perdi 25 quilos, tornei-me uma atleta, parei as crises de compulsão, tive novos (des)amores, consegui novas e fortes amizades, ganhei e poupei dinheiro e fiz este blogue crescer como nunca (coisa que o Tipo sempre disse que não seria capaz de fazer sem a sua ajuda). Por isso, agora estou pronta para ir ainda mais além, até onde a minha força e esperança me permitirem. E ainda bem que não há um medidor para isto, porque nenhum seria capaz de medir estas minhas duas energias incontroláveis.

Como deixar o açúcar de vez?

Pois que por causa do texto de ontem, choveram pedidos a implorar por dicas para se deixar de comer açúcar. Como é que tu aguentas? Deve ter sido a pergunta que mais me fizeram desde que anunciei que na minha vida já não têm lugar produtos com açúcar adicionado.

Estou há quase 24 horas a pensar em dicas para vos ajudar a largar o açúcar de vez, mas, confesso, não é fácil pôr por escrito esta metamorfose que se deu em mim. É que nem eu própria sei bem como estou nesta demanda há 4 meses. 4 meses, ãh, quem diria? Quem diria que seria capaz de tal feito?

Mas a verdade é que tenho sido incrivelmente capaz e que me sinto muito bem com esta minha decisão. Mesmo. Mas bom, vamos ao que interessa, ao que nos trouxe até aqui. Dicas, dicas e mais dicas. Agora, garanto à partida: não há milagres. Não julguem que vão encontrar neste texto uma fórmula mágica de espécie alguma. Isto exige esforço, perseverança e algum jogo de cintura. Ora atentem:

1.ª Decidir que se quer MESMO deixar o açúcar: e neste sentido não há meio termo. Ou sim ou sopas. Pessoalmente, detesto radicalismos, mas quando estamos a falar duma substância que pode ser comparada a uma droga, e temos a noção que a queremos deixar, não vamos andar aqui a brincar às escondidas. Se é para deixar, é para deixar e pronto.

2.ª Comunicar aos outros só quando estivermos certos da nossa decisão: o mundo vai querer tramar-nos. É mesmo assim, que eu não ando aqui para enganar ninguém. As pessoas vão testar-nos, vão ver se a nossa decisão é para durar ou não e nós vamos ter de nos preparar para isso. Se a nossa convicção for forte, não há oferta nem tentação que nos amedronte.

3ª Ler os rótulos com atenção: quase tudo tem açúcar, minhas meninas e meus meninos. Por isso, ler os rótulos é fundamental. Tudo o que tenha escrito: melaço, melaço de cana, melaço negro, malte de cevada, adoçante à base de milho, cana-de-açúcar, xarope de milho, xarope de ácer, xarope de alfarroba, xarope de aveia, xarope de arroz ou geleia de agave… É açúcar! Tal como a dextrose, a frutose, a sacarose, a maltose, a galactose, a lactose e a glucose: açúcar! Estão assustados, não estão? Mas não vale a pena! Basta que compremos o mínimo possível de produtos em pacotes e que optemos, sempre que possível, por alimentos que sabemos o que são e que se apresentam no seu estado natural.

4ª Encontrar substitutos à altura: a fruta pode ser uma boa opção, por ser doce. Claro que a fruta tem açúcar, mas um açúcar naturalmente presente e, por isso, não entra para estas contagens. Eu opto por ter sempre comigo tâmaras, porque adoro e porque me saciam à séria. Também compro chocolate com açúcar de côco, que é uma boa opção.

5.ª Aceitar que os primeiros dias são os mais difíceis: quem diz dias, diz o primeiro mês. E para nós mulheres, há dias que são iguais a levar com um pau de marmeleiro nas costas, muitas vezes seguidas. Eu bebia água, comia frutos secos e pensava noutras coisas.

6.ª Evitar pensar no assunto: isto é, para que é que vou estar sempre a pensar no que não posso comer, em vez de pensar no que posso comer? É aqui que avançamos para a 7.ª dica.

7.ª Fazer uma lista de tudo o que podemos comer e nos sabe bem: quando começamos a constatar que podemos comer uma série de coisas, percebemos que o inferno alimentar está apenas nas nossas cabeças. Há uma série de combinações ótimas, que desconhecemos, que nos podem saciar verdadeiramente. Ver programas de culinária, ir a uma livraria ver livros de receitas, vale tudo.

8.ª Estar confortável com a decisão: estamos sempre a tempo de desistir disto. Não é um caminho sem volta, apesar de eu achar que só traz benefícios. Por isso, o que perdemos em experimentar?

Quando os resultados começam a aparecer, ficamos convencidos. A pele, o cabelo, o humor, a barriga chapada, a celulite, fica tudo mil vezes melhor.

Não sei se era isto que queriam, meus fofinhos, mas eu dei o litro. Como comecei por dizer, dei início a isto a achar que talvez não conseguisse. Mas consigo, conseguimos todos. Se é fácil? É pior que uma unha encravada, mas vale muito a pena. Vale tudo.

Bolos

Bolos. Eu sempre adorei bolos. Bolos de chocolate, de noz, de cenoura, de brigadeiro, de maçã, de iogurte. Bolos. Eu sempre achei que não viveria sem eles. Mas vivo. Vivo sem os bolos que me habituei a comer desde miúda. Ao pequeno-almoço, ao lanche, a toda a hora. Vivo com outros bolos e tenho encontrado coisas muito boas. Muito boas mesmo. Recebo muitas (MUITAS) mensagens a perguntar como consigo não comer açúcar. Vou tentar responder: os primeiros dias e semanas foram difíceis. Sentia o corpo a pedir, a gritar. Hoje já não sinto esse desejo. Estou calma em relação aos bolos e aos doces em geral. Não me faz a mínima impressão ver os outros a comer, nem entrar numa pastelaria para beber apenas um café. Sei que há quem ache que “de vez em quando não faz mal” e que esta atitude “é extremista”. Eu não digo que nunca mais volto a comer açúcar, nem vou morrer se o fizer, mas se me sinto mais equilibrada assim, por que razão tenho de comer uma coisa que não me traz benefício nenhum? Convido todas as pessoas a experimentarem esta sensação. Sobretudo, se tiverem uma má relação com a comida, como eu tinha. Faz toda a diferença.

Massa Gorda

Houve um tempo em que a minha massa gorda era de 39%. 39% de massa gorda, considerando o meu género e a minha idade na altura, correspondia a obesidade. Eu era obesa. Quando digo isto as pessoas chamam-me exagerada. Normalmente, associam a obesidade a pessoas com mais de 100 quilos (só para ter um número redondo). Por isso, na cabeça de muita gente, eu nunca fui obesa. Mas fui, a verdade é que fui. Os números diziam isso. O valor da massa gorda dizia isso. No fim de semana, no bootcamp, voltei a conhecer este número, através de uma balança que faz essa medição. 17,4% de massa gorda é o que habita hoje no meu corpo. Passar de 39% para 17%, é uma espécie de feito heróico. É passar de obesa a atleta, literalmente. Interessa dizer que este dado se torna fundamental para perceber a minha composição corporal e é muito mais significativo que o peso. Muito mais. Por isso, o peso já não conta. A balança só teve um número mais pequeno que este na infância. Mas, como já escrevi muitas vezes, deixei de me pesar. Voltei a fazê-lo por imposição do meu treinador, para percebermos a evolução. Agora, para além do peso, sei a quantidade de gordura. E isso sim, interessa-me. É isto!

Ninguém ia saber…!

Quando eu comia às escondidas, fazia-o porque não queria que os outros soubessem que estava a falhar outra dieta. Queria que achassem que estava a ser bem sucedida, que daquela vez, era de vez. Mas nunca era. Afinal, eu comia, comia muito. Só que ninguém sabia e, para mim, isso era o suficiente. No outro dia, tive estas bolas de berlim na sala. Estava lá eu e elas, sozinhas. Ninguém ia saber, se eu tivesse comido. Ninguém me veria a falhar. Porém, neste momento, eu importo-me pouco com os olhares alheios. Eu não falho comigo. Agora, eu vivo em paz com a minha consciência. E não troco esta paz por nada.

É muito fixe estar aqui!

Dei por mim a dizer esta frase, mais do que uma vez, o fim de semana passado. Estive no bootcamp que anunciei neste texto e a experiência foi mesmo enriquecedora. Tive a oportunidade de cozinhar e comer refeições equilibradas, de ir às compras, tendo em atenção os rótulos, de treinar e de contar a minha história.

A minha história de vida, que passou muito por esta insatisfação com o meu corpo, com o meu aspeto e com a minha imagem. Às tantas, dei por mim a dizer, em tom motivador: isto é fixe. É mesmo muito fixe estar aqui. Aqui, deste lado, do lado de quem se sente bem consigo e com as suas escolhas.

E nunca tinha pensado nisto assim. Nisto de poder haver dois lados (ou mais do que dois, até). Porque até cá se chegar, tudo parece meio vago, meio impossível, meio estranho. Mas, posso garantir, é uma sensação incrível. Poder viver num corpo que não nos atormenta é das melhores coisas que já senti. É uma liberdade que sai dos poros, que vem de dentro para fora.

Gostei do fim de semana também por isto. Por poder ser a concretização real e ao vivo de que é possível chegar aqui. O caminho é tudo menos fácil. É acidentado, tem muitos obstáculos, mas o destino? O destino é para lá de incrível. É a ideia de se ser absolutamente feliz em alguns momentos, que passam a ser muito mais frequentes do que um dia foram.