Categoria: Diário

Compulsão Alimentar

“Compulsão alimentar é uma doença mental em que a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome, e que não deixa de se alimentar apesar de já estar satisfeita. Pessoas com compulsão alimentar comem grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo.” 

Durante toda a minha vida fui apelidada de gulosa. Ou grande parte dela, vá. As pessoas à minha volta achavam que eu era gorda porque comia muito, o que era verdade, mas julgo que achavam que podia parar de comer e emagrecer se assim o quisesse.

Não. Todas as dietas que fiz falharam. O que eu tive, o que eu tenho ainda hoje, é uma doença, que me levou a comer doses descontroladas de comida, para lidar com situações difíceis que vivi. O que eu tive, o que eu tenho ainda hoje, está muito além do pecado da gula.

É um assunto sério, que eu vivi, mas já não vivo, em silêncio absoluto. Eu estive gorda porque comia muito, para me fazer mal, para me castigar, para compensar. Falo disto assim porque sei que, como eu, há milhares de pessoas a passar pelo mesmo. A viver de vergonha. A esconder.

A compulsão alimentar é uma realidade que precisa de ser discutida com seriedade. É uma doença que, apesar de ter manifestações físicas, tem outras, psicológicas, muito, mas mesmo muito mais graves. É urgente falar disto. É urgente dar voz a quem sofre disto. Se não for por mais nada, este blogue já valeu a pena.

Férias para quê?

As férias são uma catástrofe. Não há horários. Não há disciplina. Não há regras. As férias são uma verdadeira catástrofe. Se durante o resto do ano ainda me consigo controlar minimamente, quando me apanho com ordem de soltura é o fim do mundo em cuecas.

Gelados? São aos dois por dia. Bolas de Berlim? O senhor não ia passar por mim em vão, não é!? Pão com manteiga e petiscos? Como assim, ia negar? E pimbas, é o que se vê: não há calças que me sirvam, não sei o que vou vestir para voltar ao trabalho.

Já imagino o que vou sofrer, uma sala cheia de miúdos, com um calor insuportável e eu de calças apertadíssimas. É o fim! Mas quem me mandou comer que nem uma pequena lontra, quem foi? Quem me mandou quebrar a dieta? Quando a cabeça não tem juízo…

Mas agora começou setembro e eu vou mudar. Vou mudar à séria: acabou-se o pão, o arroz, a massa, as batatas, as tostas. Acabaram-se os refrigerantes, os bolinhos e as sobremesas. Aliás, acabou-se tudo o que implica comer. Fome. Eu preciso é de passar fome!

Grelhados e cozidos. Zero hidratos. Nem fruta vou comer, só para dar aqui um abanão ao meu corpo. Talvez até experimente um daqueles planos detox… Até ao Natal perco os quilos das férias e os outros todos que já tinha de perder. Agora é que é! Sim, sim!

Se conseguir perder 5 quilos por mês, são 20 quilos até ao Natal. É isso! Depois, no Natal, lá me encharco de coisas boas. Não hei-de ganhar 20 quilos em duas semanas. Bem, vamos a isto, que eu tenho de recuperar das férias. Ai, as férias deram mesmo cabo de mim!

*

*

*

Este seria o meu estado há uns anos. Provavelmente, começaria uma nova dieta, muito restritiva, que acabaria por falhar algumas semanas após o seu início. Hoje, não só sinto que as férias não deram cabo de mim, como tenho a tranquilidade de voltar à rotina, sem extremismos.

O que nos faz perder peso, sem o voltar a ganhar, é a consistência. O trabalho de todos os dias, de alimentação equilibrada e de treino regular. Sou pelo fim das dietas. Sou pelas férias livres, mas com cabeça. Sou pelo caminho longo, nunca pelos atalhos. Sou pelo cuidado com que trato de mim. Todos os dias.

Como é que queres estar daqui a um ano?

Fiz esta pergunta no final do último vídeo que lancei no meu canal de YouTube. Fi-la de uma forma muito consciente, porque um dia me coloquei esta mesma questão: Como é que quero estar daqui a um ano?

Gostava que todos os que me lêem se fizessem esta pergunta também, porque quem não tem ambição, fica estagnado, nunca muda, se mudar for um desejo, jamais evolui. Como é que quero estar daqui a um ano? é uma pergunta muito importante.

Quero estar no mesmo emprego ou quero estar noutro? Quero estar na mesma relação ou quero estar noutra (ou sozinho)? Quero estar mais magra ou mais musculada? Quero ser menos ansiosa ou estar sempre à beira de um ataque de nervos?

Todos nós passamos por dúvidas destas todos os dias, a grande cena é o esforço que fazemos para lhes encontrar respostas válidas. Melhor: o essencial é como passamos a organizar a nossa vida, se aquilo que passamos a querer é diferente do que temos.

Eu sempre quis estar menos gorda, desde há muitos anos. Continuo a querer. Não que queira estar mais magra do que estou agora, mas antes porque entendo este trabalho como uma continuação de vida, não pelo corpo em si, mas pelo cuidado que passei a ter comigo. Vou continuar isto.

Se é perder peso que queres, sim, tu que me lês, porque este blogue também é sobre emagrecimento, coloca esta questão a ti próprio: como é que eu quero estar daqui a um ano? E depois de saberes a resposta, traça um plano e começa a cumpri-lo.

Pede ajuda. Informa-te. Estuda. Investiga. Evita os atalhos. Sê persistente. Resiliente. Faz o melhor por ti, a partir desse segundo, todos os momentos que puderes. Ama-te mais e permite-te mais. Coisas boas acontecem a quem é atento a si e às oportunidades. E a quem faz por isso.

Ser livre

Escrevo muitas vezes sobre ser livre de mim. Sobre poder viver sem estar presa a coisas, a pessoas, a situações. Fui exemplar este ano inteiro. E-XEM-PLAR. Comi sempre bem, treinei muito, fiquei na minha melhor forma física de sempre. Sempre a trabalhar bastante, a organizar o meu tempo, a correr de um lado para o outro. Podia ter decidido continuar este registo nas férias. Podia, mas não o fiz. Quer dizer, não perdi a cabeça, mas fui muito mais flexível comigo. Acho que engordei. Não sei quanto, mas hei-de saber, mais dia menos dia. Ou não, porque isso já não é mesmo o que mais me interessa! Interessa-me ter a certeza que o fim das férias, significa o fim desta vida de maior libertinagem. O regresso ao trabalho, que está para muito breve, é sinónimo de mais treino, de marmitas, de água bebida na quantidade certa, de horários. Não vou entrar de dieta, vou apenas voltar, o mais depressa possível, àquilo que é a minha alimentação de todos os dias, sem as exceções que abri durante este mês. Porque a liberdade é isto: tomar decisões, viver com as consequências, acertar novas decisões. E está tudo bem!

32


O 31.° ano da minha vida foi o ano mais importante de sempre: arrumei assuntos que estavam desarrumados há anos. Nem um, nem dois, vários. Os meus alunos aprenderam muitas coisas e foram felizes. Os meus amigos continuaram por perto. Este blogue cresceu como nunca. A minha família esteve bem. Eu cheguei à minha melhor forma física de sempre. A fasquia está muito alta, mas a minha ambição é maior que isso. Só posso agradecer tudo o que tenho, porque sou uma sortuda sem medida. Eu acredito que a vida se organiza por ciclos e sei que hoje começou um novo para mim. Sinto-o. Obrigada por todas as mensagens tão queridas. De coração. Que esta Perna Fina continue a ser esperança para todos aqueles que querem mudar, mesmo que ainda não saibam como.

Des-na-tu-ra-da

Sou uma desnaturada, eu sei. Tenho deixado este barraco ao abandono e ontem, quando a minha mãe me disse que não escrevia desde dia não sei quantos, senti-me péssima. Eu não estou morta para a vida, estou super ativa no Instagram e no YouTube (e nas férias, também!). Essa é que tem sido a questão: é que tive um ano de trabalho de bradar aos céus e precisei mesmo desta pausa. Porque escrever implica mais atenção do que publicar apenas uma foto, não é verdade?! Mas não se aflijam, que eu não estive só a descansar. Estas férias foram muito produtivas a muitos níveis, Perna Finamente falando também. As novidades não vão tardar e são melhores que boas. Assim que puder, conto tudo, tudo. Por enquanto, vou aproveitar esta última semana da melhor forma que posso e finalizar este bronze que está bem fixe.

Quantos quilos perdi?

Eu fui gorda, mas também fui muitas vezes magra. Fazia dieta atrás de dieta, perdia peso e engordava tudo outra vez (ou mais). Tenho memória de me ter posto em cima de uma balança, há mais de 6 anos e de ter mais de 80kg. 81 e picos. Desde que comecei a Perna Fina, já tive vários pesos: lembro-me de celebrar os 72, os 68, de ter ficado muito tempo parada nos 64, de ter chegado aos 61 e de me sentir incrível. O peso mínimo que tive foi de 57 quilos, por isso, de forma arredondada, digo que perdi 25 quilos.

Eu já peguei num peso de 25 quilos e é qualquer coisa de muito pesada. É impressionante! Perdi muita, muita chicha, é certo, mas mais do que isso: eu transformei o meu corpo. Neste momento, tenho a composição física de um pessoa dita atleta, o que me deixa muito, muito, feliz. Tenho um IMC de 21 kg/m2, nível 1 de gordura visceral (o valor mínimo de gordura ao redor dos órgãos) e muito mais de metade do meu peso é músculo. A minha idade metabólica é de 16 anos, o que é metade da minha idade real. Tenho 58 quilos.

Eu perdi muito peso, é verdade, mas a mudança que fiz no meu corpo já está muito além de um emagrecimento. Está numa profunda alteração de estilo de vida, de perspetiva do que é ser saudável. E feliz (comigo e com os outros).

Para pensar…

Não foi uma refeição, nem um treino, que me deu este corpo que tenho hoje. Foram muitas refeições boas, e muitos treinos bons, que me fizeram chegar aqui. Por isso, não será uma refeição, nem uma falta num treino, que me tirará esta conquista. Serão muitas refeições más, e muitas faltas aos treinos. Isto para dizer que o que nos emagrece, ou engorda, é o que fazemos como rotina. Nunca as exceções. Se nos apetece muito uma piza, devemos comê-la. Sobretudo se estivermos com amigos e família, numa festa, num jantar, em convívio. Os outros momentos, os mais solitários, os de todos os dias, talvez devam ser levados como rotina. E tudo correrá bem. Tudo.

Nenhum alimento emagrece!

Eu sei que a propaganda alimentar nos quer fazer acreditar nisso, que saem estudos e teorias e cenas todos os dias, mas deixem-me desenganar-vos: nenhum alimento emagrece. Nenhum! Nenhum tem calorias negativas! Nenhum nos vai fazer perder peso. Há alimentos bons, nutricionalmente equilibrados, que podem potenciar a perda de peso, por terem mais ou menos valor calórico. Mas por si só, nenhum, volto a frisar, nenhum alimento emagrece. Nem os brócolos, nem a alface, nem os ovos, nem o abacate, nem nada. O que emagrece é comer alimentos equilibrados, que todos, melhor ou pior, sabemos quais são e treinar. Estou sempre a escrever isto, mas não me canso: não há fórmulas mágicas, não há mais roda nenhuma para inventar. Só calorias a entrar e a sair. E a persistência. Chiça, que canseira.

Ninguém é melhor do que ninguém, esquece isso!

Esta altura do ano é particularmente difícil, não é? Tens o Instagram, o Facebook e as revistas cheias de imagens de miúdas em biquíni, a exibirem a sua boa forma, e a lembrar-te que, passado um ano, ainda não te consegues sentir bem contigo. Como é que passou um ano, como? Como é que passou mais um ano em que não cuidaste de ti? Em que voltaste a desistir da dieta? Em que voltaste a cancelar a mensalidade do ginásio? Como? Por que é que voltou a não funcionar? O que é que correu mal?

São estas as dúvidas que pairam na tua cabeça, não são? São as imagens das atrizes, das apresentadoras e das cantoras, de barrigas e pernas perfeitas que te fazem odiar-te um pouco mais, não é? Eu sei. Parece que o mundo é todo delas. Parece que nada lhe é negado… Sabes? O problema não está nelas. Nunca esteve. Está em ti, em nós, que não nos levamos a sério o suficiente para nos cuidarmos a sério e de um vez por todas. E nem vale a pena começarmos a encontrar desculpas para não sermos como as Cláudias Vieiras da vida.

Ah, porque elas têm acesso a todas as dietas que quiserem! Ah, porque elas têm os treinadores todos que quiserem! Ah, porque elas têm os tratamentos todos que quiserem! No final, elas têm isso tudo, verdade, mas têm também a força de vontade necessária para continuar a tratar do abono que a vida lhes deu. Porque, ei, não nos deixemos enganar, elas também têm acesso a todos os restaurantes e festas que quiserem, onde abunda a comida boa e a diversão e, ainda assim, escolhem tratar de si. Ninguém é melhor do que ninguém, esquece isso. Esqueçamos isso!

Em último plano, isto é sempre uma decisão unilateral, de mim para mim, de ti para ti. Não se trata de alguém ser melhor que nós ou ser mais bem tratada por ter acesso a mais coisas, o que pode ser uma realidade. Trata-se de um comprometido muito pessoal, muito difícil. Mas que vale mais a pena que todas as bolas de berlim do mundo.