A única coisa que eu invejo verdadeiramente em alguém, é essa pessoa poder comer tudo sem engordar. Eu já escrevi que gosto muito da comida que como hoje em dia, que não vivo em sacrifício, mas a minha vida não é um regabofe alimentar. Nada disso. Apesar de tentar controlar os meus sentimentos em relação à comida, tenho sempre aquela sensação de perceber se o que estou a comer é uma boa opção ou não. Porque a verdade é só uma: ou sou regrada ou chapéu. Por isso eu gostava de saber como é comer sem se preocupar com os efeitos que essa ação terá. Um bocadinho como as pessoas que compram as coisas que querem sem olhar para a etiqueta do preço (essa sorte eu também não tenho). Eu nunca vou conhecer essa sensação, porque nós somos sempre (também) a nossa história. Só me resta acreditar que há desvantagens em poder comer tudo o que se quer, que assim estou a cuidar mais de mim e blá, blá, blá. Isso tudo. Isso e uma petição para que essas pessoas ardam no inferno.
Mês: junho 2018
Não temos sempre de ir ao nosso limite!
Às vezes sentimo-nos na obrigação de ir sempre até ao limite. Eu sou muito assim: quero sempre conseguir mais e melhor de mim própria. E esse pode ser um risco perigoso de pisar. Porque às vezes, o limite é o cansaço e a exaustão. No trabalho, no treino, na vida.
As últimas semanas foram loucas, por isso, este fim de semana decidi parar e passar as horas na praia com amigas. Foi o melhor que fiz: mergulhar, apanhar sol, dizer disparates, comer comida boa, de saborosa, mesmo que não entre no plano assim à partida.
Porque sabermos parar é sabermos ser amigos de nós mesmos. É perceber que somos humanos, que nos cansamos e que precisamos de descansar, como qualquer pessoa. Não é sinal de fraqueza, nem de desleixo. É sinal de que se é humano, de que se vive e não se sobrevive, o que é completamente diferente.
Ir ao limite todos os dias é parvo. Pessoalmente, sinto muito isso no treino. Todos os dias vejo gente a querer ultrapassar o seu último recorde de peso ou o de outra pessoa. Ou a querer fazer mais rondas, ou a querer ser mais rápido. Eu sou muito competitiva e jogo sempre para ganhar, mas há dias em que não consigo mais.
Nesses dias o empenho é o mesmo, mas não me obrigo a bater nenhuma pontuação e faço as coisas mais devagar ou com menos peso. Não deixo de fazer, mas não me obrigo a cair para o lado. O mesmo acontece nos eventos sociais, por exemplo. Saber dizer que não, que quero ficar em casa, que preciso de descansar… É necessário.
Ir ao limite, de vez em quando, sair da zona de conforto e sentir que nos estamos a superar, alimenta-nos o ego e faz-nos crescer. Mas nem sempre, nem nunca. Porque ninguém aguenta, nem tem de aguentar, viver sempre a 300%. Não há necessidade. Faz mal. Envelhece. Não é parar. É saber desacelerar.
WOD de Santo António
Santo António, Santo Antoninho,
Não aches que por ser o teu dia, eu descanso.
Estou pronta, sem vacilar,
Em direção a mais um wodzinho.
Wodzinho? Não. Wodzão!
Que este corpinho não quer saber se é feriado ou deixa de ser.
Agachar é sempre preciso,
Porque esta bunda tem de continuar a crescer.
Por isso, Santo António querido,
Não aches que ando aqui a brincar.
Mesmo que nunca tenhas sido meu amigo,
Eu não paro de me esforçar.
Um dia, quem sabe, olhes para mim com outros olhos.
Olhes e digas: que rica moça ali está.
Vou acelerar-lhe a chegada do príncipe
E casá-la já.
Passar de um extremo ao outro!
O maior perigo que eu podia correr neste momento, não era engordar tudo outra vez. Isso seria uma tragédia, mas eu iria parar a um lugar conhecido, de onde saberia sair, mesmo que me custasse muito. A maior desgraça que me podia acontecer, seria passar para o lado oposto daquele em que vivi. Sim, é disso mesmo que estou a falar. De distúrbios alimentares contrários à compulsão alimentar. O pior que me podia acontecer era querer deixar de comer, para ficar cada vez mais magra, como se a minha magreza nunca fosse suficiente. Eu tenho pensado muito sobre este tema. Porquê? Porque isto é aliciante. Ser magra sempre foi o que quis. As pessoas que me querem bem já tocaram neste assunto. Porque têm medo que não saiba parar. Porque têm receio que o meu entusiasmo me tolde o discernimento e a razão. Por mim eu fazia pause agora. Ficava assim como estou até ao fim dos meus dias. Nem mais, nem menos. Magra ou gorda. Forte ou fraca. Definida ou mole. Ficava assim. Como não há esse botão nas opções, só me resta seguir e dançar ao som deste play, sabendo que se o meu estilo de vida não se alterar, no que a alimentação e treino diz respeito, continuarei a estar como estou. E está ótimo assim.
Inspira (e não pira)!
A palavra que mais devo ler nas mensagens que recebo, vindas de quem me lê, é inspiração. Escrevem-me mesmo muitas pessoas a dizer isto: que se revêem na minha história, que se inspiram em mim e na minha força e que o meu sucesso, seja lá ele qual for, as faz querer mudar também, porque é como se vissem que é mesmo possível atingir o que parece irreal. Eu confesso, fico muito enternecida com estas palavras, porque sinto que esta exposição toda a que me permito pode mesmo ajudar alguém. Nos meus tempos péssimos, de mau estar interior, eu teria gostado muito de ler alguém que escrevesse o que eu escrevo. Por isso, percebo a importância que começa a ter cada palavra que publico. Tudo bem, eu lido lindamente com a pressão, mas a sensação que eu não quero nunca passar é a de que sou qualquer coisa que não está ao alcance de quem quer que seja. Porque o que eu atingi, não é algo exclusivo e destinado a mim. É apenas (como se não tivesse custado nada?!) persistência, trabalho duro. Gosto disto de poder ser uma inspiração, desde que isso continue a aproximar as pessoas de mim e do que eu atingi e nunca o contrário. Como já escrevi um dia: sou uma miúda comum, que, como tantas outras, viveu um distúrbio alimentar sério. Sou uma miúda comum que conseguiu mudar de vida, porque procurou ajuda para se tratar, aprendeu a comer melhor e descobriu no treino um prazer que desconhecia. Eu sou isto tudo, que ainda é pouco, dadas as minhas ambições, mas sou real e não há pedestal que me assente melhor, do que esta alegria autêntica de viver a vida nova que escolhi para mim.