Quando vejo a forma como organizo a minha vida, no que a qualidade de vida diz respeito, percebo que estou contente com os meus dias. Eu trabalho muito, como professora e não só. Tenho muitos compromissos, todos os dias, e tento cumprir tudo o melhor que consigo e sei.
Antigamente, eu era menos ocupada e achava que a minha vida era mais difícil do que é. E era. Porque eu privava-me de viver. Eu (sobre)vivia com a permanente insatisfação de ser alguém que não queria ser. Por fora, mas por dentro também. Eu era alguém que não se comprometia, que não levava as coisas até ao fim, a sério.
Por isso, eu achava que tinha uma vida dura e má e atribuía isso ao trabalho, que não era assim tanto, às relações que mantinha, a tudo. A mim. Sendo que esse sempre foi o principal problema: o meu corpo, a minha cabeça, a minha vontade de mudar sem saber como.
Eu privei-me de viver muitas mais situações do que gostaria de aqui enunciar. Privei-me de muitas vivências dos 17, dos 18, do 19, dos 20 e tal. Porque vivia presa dentro do meu próprio corpo, falhanço atrás de falhanço, dieta atrás de dieta, inscrição de ginásio atrás de inscrição de ginásio. Era essa a minha vida.
Por isso, hoje dou por mim a dizer: eu adoro a minha vida. Isto não significa que seja perfeita, porque não é. Não estou sempre feliz, como é óbvio, mas estou muito mais vezes do que alguma temporada estive. Sinto-me grata por isso. e é também por isso que escrevo: para poder incentivar outros a fazer o mesmo.
Se vivemos de privação, não estamos mesmo a viver. Nem tudo é um mar de rosas, é certo, mas também nem tudo pode ser um inferno. Não deve ser. É urgente o discernimento necessário para escolher as batalhas certas. E para as vencer. Ninguém merece viver privado de ser quem quer ser. Seja p’lo que for. É urgente ser-se livre. Completamente livre.