Ia eu de comboio com o meu irmão, num intercidades, quando vejo entrar um gatinho como ele só: alto, barbudo, com braços fortes. Do meu agrado, portanto. Sentou-se no banco ao lado do meu. Meu irmão roncava que nem um porco. Uma senhora jogava um jogo demasiado sonoro no seu smartphone e eu nada mais tinha para fazer senão olhar para o gatinho, pelo canto do olho. Às tantas, o felino, de quase dois metros, fez uma chamada e disse: Gorducha, já estou no comboio. Devo chegar por volta das 20:30. Vou logo ter contigo, ok? E eu fiquei ali num misto: olha que fixe, que namorado tão fofinho e cheio de saudades e quê. Mas o nickname gordurcha… Ui! Nada contra. Até porque a miúda, provavelmente, era tudo menos gorducha e aquela alcunha assentava mesmo numa fofice pegada, mas comigo não ia dar à mesma. Tinha de ser qualquer coisa do género: Olá, miúda gira, estás bem? Já estou no comboio, devo chegar por volta das 20:30. Vou logo ter contigo, ok? Vamos treinar, não vamos? Compraste batata doce? Perfeito! Eu tomo o meu pré-treino quando estiver mesmo a chegar, sim? Sim, sim, leva a proteína para depois, que hoje vamos arrastar-nos naquela box, não vamos? E depois havia um grunhido, tipo caveman, só para mostrar a força do bicho. Era isto. Pronto, está bem, eu estou a exagerar (muito). Menos na parte da gorducha. Gorducha não ia idar!

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