Andei os últimos dias a maldizer o fim das férias e a refilar por não me apetecer voltar ao trabalho. Mal eu sabia o que a vida me tinha destinado. Ontem, perdi o meu avô Ramiro. O meu avô paterno, casado há 58 anos com a Perna Fina mais pura do mundo, que neste texto isso nada interessa (ou até interessa um pouco).

O meu avô era um senhor. Um senhor que se orgulhava de dizer que nunca deveu um tostão a ninguém, a não ser na época em que veio para Lisboa e pediu fiado para a única refeição do dia. Um senhor sempre muito bem arranjado, que nunca deixou que um barbeiro lhe cortasse o cabelo, que nunca usou sapatos sem ser de sola, que sapatos de borracha não eram de homem.

O meu avô Ramiro não via mais nada que o filho, o meu pai, os netos e a minha mãe, por quem tinha um grande carinho. Nós éramos perfeitos a todos os níveis: os mais bonitos, os mais espertos, os mais capazes. Ai de quem ousasse questionar a nossa perfeição!

O meu avô Ramiro estava internado desde abril. O coração dele aguentou quase tudo, menos o embalo do último sábado. O meu avô morreu ontem, depois de, no domingo e ainda que inconsciente, ter ouvido a voz do meu pai, da minha mãe, a minha, a do meu irmão e a de um grande amigo seu, que cuidou dele em Coimbra, durante todo o tempo em que esteve internado. Ele estava só à espera de se despedir, para depois se ir embora. E foi.

Ontem e hoje, durante o velório e o funeral, não houve quem dissesse o contrário: o Ramiro era um homem bom, educado, que gostava da família e dos amigos. Até o céu lhe chorou a morte. Restam as lembranças, que são as minhas, do meu avô Ramiro.

6 Comments on Avô Ramiro

  1. Também eu tive um avô Ramiro na minha vida, avô materno e um pai para mim. Faz hoje 11 anos que partiu e o vazio permanece :'( um beijinho querida

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