Muitas vezes desejamos estar de uma determinada forma, que nos parece impossível de alcançar. E lamentamos, lamentamos muito, o facto de não termos nascido altas de espadaúdas. Eu sempre fui assim: uma insatisfeita com o meu aspeto. Imaginava-me sempre magra, muito bronzeada e loura. Talvez tanta Barbie me tenha feito mal, sei lá. Talvez.
Loura fui, a determinada altura do campeonato. Quem me fez as madeixas foi a mãe de uma amiga da época. Uma bela merda, foi o que foi. Tinha o cabelo às riscas, grossas, de um péssimo gosto. Durante anos tive de pintar o cabelo da minha cor, para reparar o estrago. Não havia mais nada a fazer.
O bronze, aparentemente o desejo mais fácil de concretizar, tornava-se impossível porque eu evitava as idas à praia. Com gente da minha idade nem pensar, a não ser que fossem da minha extrema confiança. Deus Nosso Senhor quis eu fosse branca, branca, portanto, o que à partida parecia fácil, era só mais um desejo por cumprir.
Magra? Como é que eu podia ser magra? Eu comia como se não houvesse amanhã, todos os dias. Comia muitas gomas, muitos gelados, muitos aperitivos de queijo, muitos hambúrgueres. Fora de casa, sobretudo, com a semanada que os meu pais me davam para comer na cantina da escola.
O autoboicote foi a principal razão do meu insucesso, durante muitos anos. Eu achava que queria mudar, mas, na verdade, fazia muito pouco por conseguir o que queria. Ou achava que queria. Se eu tivesse de eleger um dos principais objetivos que atingi, seria este: parar o autoboicote.
Ultimamente, tenho-me boicotado pouquíssimo. Aqueles extrazinhos ao final do dia acabaram, praticamente na totalidade, há uns meses. Episódios de idas a pastelarias, sozinha, comer um bolo, são cada vez menos recorrentes. Não me lembro da última vez que aconteceu. No meu caso, é um ótimo sinal.
Não digo que não como nada que saia da minha alimentação de todos os dias. Claro que como. Ainda ontem soube o que era o céu com um Snickers de chocolate branco (é de edição limitada, tive de provar!). Mas sinto que me consigo controlar cada vez mais. Mesmo.
E, aos poucos, os resultados vão aparecendo. Não no peso, estou a cagar-me para o peso, mas no aspeto do meu corpo, na forma como me sinto e na confiança que carrego no peito por, finalmente, poder ser como sempre me imaginei.
[A imagem é meramente ilustrativa. Eu lá queria um cabelo daqueles!?]