Nunca dei grande atenção às minhas costas, a não ser por me saírem sempre uns nacos de carne na zona do sutiã, o que me incomodava um bocado, mas ontem, estava eu a suar em bica a fazer burpees, quando o meu amigo de há 20 anos me disse: “Estás mesmo diferente. Estás a ficar com costas, pá.” E fez assim um gesto, a ensaiar a pose de um homem musculado e eu só não paniquei logo ali porque estava no meio dum burpee. Panicar na medida em que tudo o que é demais é demais, pronto, e eu não tenciono perder os meus traços femininos, só por isso. Quando o treino acabou fui ter com ele para que me explicasse o que queria dizer com aquilo. Olhei para ele e disse: “Achas que estou a ficar com costas largas, é isso? Tipo gajo?” E ele: “Não, não, são umas costas sexys. Não há nada mais dessexy que uma gaja com umas costas nhé.” Costas nhé? 29 anos a ter umas costas nhé? Eu fiquei a matutar naquilo e assim que cheguei a casa fui pôr-me ao espelho, virada de costas, a tentar ver o estado da nação e a procurar perceber se sim ou sopas. E a verdade, é que estão mesmo diferentes. Eu mexo os braços e há partes das minhas costas e dos meus ombros que mexem em bloco. Antigamente, ondulavam. São estas mudanças que, aos dias de hoje, são para mim muito mais importantes do que o número da balança. Este corpo que eu estou a construir, com tanto sangue, suor e lágrimas, até a mim, que vivo nele, me surpreende. Na box onde treino, há uma parede que tem escrita a frase: It always seems impossible, until it’s done*. Eu não podia estar mais de acordo.

*Parece sempre impossível, até ser feito, Nelson Mandela.

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