Há alimentos que comemos porque sempre comemos. Porque fazem parte da história da nossa vida e da nossa família. Por isso, nem nos questionamos se alguns deles cumprem os requisitos a que se propõem. Comemos e pronto. Já muito se vai falando de alguns termos que acusam ser prejudicais a alguns organismos, como a lactose e o glúten. Porém, o perigo das histerias está nas generalizações. De repente, toda a gente corta a lactose e o glúten da alimentação, por exemplo, sem perceber muito bem porquê. É um bocado como as calças à boca de sino: está na moda, a malta usa. Mesmo que aquele modelo não nos favoreça minimamente. Com os alimentos, ou com os componentes de alguns alimentos, passa-se exatamente o mesmo. Nem toda a gente tem de evitar a lactose ou o glúten. Depende tudo da forma como o nosso organismo reage a essas substâncias, digamos assim.
Eu nunca gostei de leite. Nunca. Fiquei sempre muito mal disposta, com vómitos. Como eu era niquenta, a minha mãe achava que “pelo menos um copo de leite eu tinha de pôr no bucho” e obrigava-me a beber aquilo à força. Para mim, sempre foi uma tortura. A minha mãe conta que vomitava muitas vezes, tinha muitas cólicas, fazia mal as digestões. Foi preciso chegar aos 27 anos para alguém me dizer que, se calhar, não devia beber leite. Que o meu corpo talvez não fosse capaz de o digerir. E eu testei-me. Estive um mês sem comer lacticínios. Acabaram-se as más digestões, a azia, o enfartamento. Depois desse mês, comi um iogurte e ia morrendo. Falando em bom português: tive uma diarreia de caixão à cova, durante as horas seguintes. Há mais de dois anos que não bebo leite, nem iogurtes. Acho que depende da fermentação ou coisa que o valha. O queijo, por exemplo, não tem esse efeito em mim e, por isso, eu como. Não há cá fundamentalismos.
Serve esta história da minha indisposta infância como alerta. Às vezes comemos os alimentos de sempre, não nos sentimos bem com isso, ou o nosso corpo não funciona bem por alguma razão, e não nos disponibilizamos a perceber porquê. Muitas vezes, acabamos a tomar medicamentos para facilitar isto ou aquilo, quando, muitas vezes, a solução estava na alimentação de todos os dias. Sábio é aquele que se dedica a observar o seu corpo. Não de forma obsessiva: aí credo, não como nada disso, mas de forma consciente e moderada. A alimentação deve cumprir o seu objetivo: dar ao corpo os nutrientes que precisa para ser saudável, dar a energia e o bem estar supostos. Se assim não for, talvez devamos ponderar o que é que andamos a fazer menos bem, porque, no final, pode mesmo fazer toda a diferença.