De quando em vez, a senhora minha mãe dá o ar de sua graça. A minha querida mãe, que adora que eu coma as suas comidinhas, mas que também quer que eu seja saudável, está sempre num limbo de desconforto no que se refere à minha magreza. Ontem, depois de anunciar que tinha perdido mais dois quilos e meio, a minha mãe perguntou: Agora vais parar não vais? É que essa cara já está a ficar demasiado ossuda. Vais perder as bochechas. Vais deixar de ser tu. Vais perder a graça toda.
A minha querida mãe, a pessoa mais importante do mundo inteiro, não consegue desfazer-se da imagem da filha bochechuda. Eu percebo: eu fui uma bebé e uma criança linda comó caraças. Mas o que eu tento explicar-lhe é que para eu ter bochechas fofinhas, há outras partes do meu corpo que se tornam demasiado fofinhas também. Muito fofinhas até. E não pode ser.
Por isso, temo que, aos olhos da minha mãe, eu esteja próxima de ser uma sem graça. Mas ok, tudo bem, eu aceito viver assim. Com a certeza de que não terei um pequeno anexo por baixo do meu queixo ou uma anca semelhante à da Kardashian em final de gravidez. Ou então, posso sempre por uns implantes… Nah, nada disso. Vou só manter-me nesta demanda, na esperança que a minha mãe assuma, de uma vez por todas, que agora tem uma filha de cara ossuda, com pouquíssima graça.