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Sempre fui a maior da turma. A minha relação com a comida sempre foi boa. Boa demais, até. A situação do peso começou, silenciosamente, a agravar quando saí do secundário, porque, uma vez que deixei de ter aulas de educação física, não fazia qualquer desporto. O pior de tudo é que aliviava o stress a comer, mas não era a comer uma maçã com raiva, era a comer o belo do bolo.

Quando terminei a licenciatura, e comecei a trabalhar, inscrevi-me num ginásio. Aquilo custava-me horrores (o que é natural ao início), mas o que me fez desistir, além de não estar verdadeiramente motivada, foi ouvir os instrutores a fazerem comentários trocistas sobre uma senhora que também frequentava o ginásio e tinha obesidade mórbida. Pensei para comigo: nas costas dos outros vejo as minhas. Entretanto inscrevi-me no mestrado e foquei-me completamente nisso, sempre, está claro, com a minha querida comida.

Em janeiro de 2013, comecei a reparar que tinha tensão alta. Fui à médica de família e levei forte e feio na cabeça, porque fui diagnosticada com hipertensão. Tudo o que ela me disse eu sabia e tinha plena noção que o meu estilo de vida me traria um enfarte antes dos 30. Fiquei assustada, mas como tinha em mente outro foco, que era terminar o mestrado, aquela preocupação ficou no subconsciente. Entretanto, fui percebendo que tinha outros sintomas de obesidade mórbida, nomeadamente dores ao nível das articulações. Este foi o meu primeiro sinal de alerta.

Terminei o mestrado, em setembro de 2013, e estas questões começaram a invadir a minha mente. Inscrevi-me num novo ginásio e na avaliação da condição física, que precede a construção um plano de treino, e fiquei realmente assustada: 112 quilos, 119 centímetros de cintura, IMC de 37 (obesidade grau II), 45,3% de massa gorda e 25,1% massa magra. Fiquei para morrer. Foi um tomar de consciência do que era realmente o meu corpo. Uma bomba relógio.

Lá comecei com os treinos: cardio e musculação de grandes grupos musculares. A partir daí, mentalizei-me que, apesar de nunca ter consumido drogas ou álcool, eu tinha um problema de adição que não via. No primeiro mês, em outubro 2013, comecei a diminuir nos bolos e folhados, retirei o açúcar dos cafés e dos galões que bebia e comecei a notar diferença, não só a nível físico, mas também a nível psicológico.

Depois de ter lido muita coisa sobre nutrição, e de traçar o melhor plano alimentar para mim, percebi que o meu problema com a comida, além da necessidade de me sentir saciada, é a necessidade do sabor. Para começar, fiz uma restrição de hidratos de carbono durante 15 dias e depois comecei lentamente a retomar os mesmos.

Em dezembro de 2013 já tinha perdido 10 quilos. Celebrei a vitória com uma ida às compras. Passei do 48 para o 44. Fiquei muito feliz e percebi que até neste desafio eu estava a conseguir atingir os meus objetivos. Quando ficava stressada, ia para o ginásio e conseguia libertar toda a minha frustração no treino e isso fazia com que tivesse mais rendimento a todos os níveis. Aprendi a canalizar o stress para outra atividade que não comer.

Em setembro de 2014, pela primeira vez, consegui comprar roupa numa loja que nunca tinha entrado: a Stradivarius Pode parecer uma coisa superficial, mas é uma forma material de compensar todo o esforço que fiz. Dois anos depois, com 70 quilos e 89 centímetros de cintura, ver a minha evolução, dia após dia, ao nível da condição física é algo fantástico, mais do que vestir aquela peça de roupa gira. A capacidade de tentar superar-me vale mais que qualquer valor numérico que me queiram atribuir. É o que me faz seguir em frente sem nunca olhar mais para trás.

Joana Medeiros

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