Eu chamo-me Joana e tenho 28 anos. Nasci em agosto e encerro em mim a maioria das caraterísticas do signo leão, que me fazem ter um feitio tramado. Culpa dos astros. Sou leoa só de signo, e de vontades, porque o meu coração é todo encarnadinho. Sou uma benfiquista assumida (o meu pai não me deixou ser outra coisa). Todos os dias vivo a felicidade da profissão que escolhi: ser professora. Quase a par com a minha família e os meus amigos, os meus alunos são os seres mais importantes da minha vida. Faço o que for preciso por eles.

Mas voltemos um bocadinho atrás. Nunca dei muito trabalho aos meus pais. Fui uma miúda bem criada e educada. Podiam levar-me a qualquer lado, que eu não envergonhava ninguém. Há quem diga que fui um pouco mimada. Eu não acho. Apenas sempre apreciei que as coisas corressem como eu as tinha idealizado. Culpa dos astros – Parte II. O único trabalho que dei à minha mãe foi a alimentar-me. Eu não comia nada. Desesperada, encharcou-me com estimulantes de apetite. Acho que os desgraçados só fizeram efeito na mudança da idade e aí comecei a comer tudo o que não tinha comido desde o meu nascimento.

Por causa do meu apetite voraz, a minha adolescência não foi grande coisa. À exceção do facto de ter recebido o título de namorada-do-miúdo-mais-giro-da-escola. Ainda hoje estou para saber como consegui esse feito. Senti-me gorda aos 14 anos e foi aí que pensei em dietas pela primeira vez. Os anos que se seguiram foram um inferno, fisicamente falando. Gorda, quase-magra, muito-gorda, magra, a-roçar-a-obesidade, escanzelada. Foram anos nisto.

Em dezembro de 2013, fui visitar a minha família paterna, que vive na Lousã. Foi na cozinha da minha avó que nasceu o blogue. As mulheres da família do meu pai são conhecidas por serem pessoas com um feitio muito peculiar. Neste caso os astros não têm culpa nenhuma. Todas elas têm a alcunha de Perna Fina. (Reza a lenda que uma Perna Fina não interessa a ninguém, nem ao menino Jesus.) Em criança, quando eu tinha acessos de raiva, a minha mãe dizia: és mesmo Perna Fina. Eu, que vivia angustiada com o facto de ter umas pernas que mais pareciam dois tarolos.

Vai daí que de Perna Fina quis mais do que a alcunha e o feitio. Quis tudo. Sobretudo umas pernas muito mais finas. Há um ano e cinco meses que mudei a minha vida. Parei de fazer dieta e comecei a cuidar de mim. Reeduquei a minha alimentação e inscrevi-me no CrossFit. Neste momento, tenho menos 19 quilos do que já tive um dia. Mas aqui o peso interessa pouco. Interessa dizer que a mudança que trouxe para a minha vida esteve sempre ao meu alcance e, apesar de a ter desejado durante anos, só quando me empenhei a sério é que essa mudança se deu.

A Perna Fina existe em mim, na medida em que me lembra o sítio aonde não quero voltar e como sou feliz agora. Mais do que isso: a Perna Fina existe para contagiar todos aqueles que, por alguma razão, se sentem insatisfeitos. Mudar é bom, mas a mudança só existe se nos sair das entranhas. “Ninguém muda ninguém”, é o título da minha tese de doutoramento no curso da vida. Por isso, queridos Pernas Finas acabadinhos de chegar, acomodem-se. Isto acabou de começar.

11 Comments on Para quem acabou de chegar

  1. E uma Leoa que se preze (astrologicamente falando, claro!), não fica a ver a vida passar, vai à luta e com garra! 😉 Gostei da história que envolve o “Perna Fina”, a cozinha da avó deve ter muito que contar! 🙂
    Beijinhos

  2. Querida Joana, um bem haja à sua força, à sua energia e paixão pela vida e pelo que faz!
    A vida e a gente nem sempre nos sorriem, mas a grande conquista é ser capaz de continuar a sorrir, agarrando o que realmente importa.
    Obrigada aos seus astros, por se terem cruzado com os do seu aluno Gonçalo, e assim, com os nossos também! Até já! E amanhã há bolo de chocolate! 😉 Beijinho

  3. Joana,

    Seria possível disponibilizares o contacto da tua nutricionista? Agora que já treino mais a sério acho que está na altura de dar o aegundo passo e portar-me melhor com a comida, e a tua nutricionista (pelo que contas aqui) paece tão incrível evtão competente!

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