Mês: novembro 2018

Deixei as natas!

Eu tenho uma amiga, que é mesmo muito minha amiga, que só come merdum. Ela come hambúrgueres, sushi e petiscos sempre que lhe apetece. Ela é magra, tem uma barriga de fazer inveja. Diz ela: eu sempre fiz muito exercício e as células têm memória. Incomodada com a alimentação que a miúda leva, falei com o namorado. Sim, que isto de ser magra por fora é uma coisa, por dentro é que são elas! Disse-me ele: ainda bem que a chamas à atenção. Às vezes, em casa, encontro pacotes de batatas fritas de presunto nos sítios mais estranhos. Ela come mal, come mesmo. Olha, uma luta que tive com ela foram as natas… Nesse segundo, a minha amiga, que esteve quase calada até então, diz: vês? Eu estou mesmo muito melhor. Eu até já cortei nas natas. Antigamente punha natas em tudo, agora ponho só nalgumas receitas. E tivemos de nos rir, não é verdade? Mas como é que aquela cabeça pode achar que tirar as natas já a faz ter uma alimentação menos má. Ultimamente, se passa por mim com merdum nas mãos, esconde, que o respeitinho é muito bonito e eu gosto. Mas o que eu gostava mesmo, era que a minha amiga parasse de usufruir da genética, se mexesse um pouco mais e comesse melhor. Porque é minha amiga e porque tem direito a viver com qualidade. Ela diz que as análises estão TOP, mas eu não sei… Bom, agora sempre que falamos em comida eu digo: ainda bem que já deixaste as natas! E é um fartote! Talvez, mais dia menos dia, deixe outras coisa também. Aí, será missão cumprida. Até lá, só dores de barriga de tanto rir (a minha barriga dói mais que a dela, porque eu faço abdominais até à morte e ela não. Só para ficar este registo, ok?).

A urgência de saber parar e não fazer nada!

Há pessoas que não sabem parar e estar quietas, sem fazer nada. Isto pode parecer tonto, mas eu vou tentar explicar que não é.

Vejo isto nalguns alunos meus: todos os dias fazemos um momento de quiet time e há miúdos que, simplesmente, não conseguem estar quietos uns minutos.

E perguntam sempre: o que é que vamos fazer a seguir? E depois? E isto preocupa-me. Há adultos assim: que têm mil afazeres, que nunca param.

Eu já fui assim. Era tudo depressa, tudo a correr. Tinha de estar ocupada. A comer também era assim, tudo numa sofreguidão pegada, sem parar para pensar e ver-me.

Saber não fazer nada pode ser doloroso. Ficarmos apenas sentados, com os nossos pensamentos, com as nossas dores, sem TV, sem música, sem Instagram.

Tenho-me dedicado a este exercício mais vezes que nunca e tenho percebido que me dava pouca atenção. Porque há sempre qualquer coisa para fazer… Ou havia.

É urgente saber parar. Sem distrações. Ficar sentada, ou deitada, a pensar, a sentir, a planear. É urgente saber lidar com o que está cá dentro.

Saber esperar é uma virtude, diziam-me quando era pequena e eu nunca percebi porquê. Saber parar é uma virtude, diria eu. No meio do caos, é difícil crescer.

É possível, mas não de forma tão profunda, não tão sentida. Não precisa de ser durante horas, o tempo dependerá da necessidade de cada um…

É urgente parar. É imperativo saber parar.

Adeus, cabelo!

Cortei metade do meu cabelo. Eu, que sempre me imaginei loura, de cabelo comprido, magra, muito magra, e bronzeada a maior parte do tempo. Cortei metade do cabelo e estou a adorar esta sensação de leveza. Porque, às vezes, achamos que nos vamos sentir felizes de uma determinada forma e afinal não. E ser leve, não é só uma questão de peso. É, também, a capacidade de arriscar sem medo, de inovar, de mudar. Esta mudança de visual ainda não acabou, mas, até agora, está a valer. Dizem que quando uma mulher corta o cabelo está prestes a mudar de vida. Eu já estive mais longe de o fazer…