Passamos a vida a dizer que não temos tempo. Eu era uma dessas pessoas. Ainda sou um pouco. Ultimamente, tenho-me esforçado para ter tempo comigo e o que tenho vindo a descobrir, é um tempo muito valioso, que eu não conhecia. Nunca me tinha permitido a viver, porque estava incapaz de fazê-lo.
Eu não gostava de estar sozinha comigo. Os meus pensamentos, as minhas angústias, os meus medos, estavam sempre a minar a minha paz. Eu era (ainda sou) muito ansiosa. Acho que esta ansiedade foi crescendo comigo e que era uma das causas que me levava a comer. A comer muito, sem pensar. Para sentir. Para me acalmar.
Eu queria estar sempre com gente à minha volta, precisava do barulho alheio, para me esquecer do meu silêncio podre. Porque quando estava sozinha, fazia disparates, maltratava-me. Odiava a pessoa que era, a minha imagem, o meu corpo. Detestava o sentimento da falha permanente, da impossibilidade de atingir os meus objetivos, que não passavam de sonhos.
Este trabalho, de estar sozinha comigo, tem sido muito interessante de se viver. Aos poucos, tenho dado por mim, sozinha, a perceber que estou tranquila. A sentir que está tudo bem, e o que não está, ficará. Dou por mim a ter a certeza que já não estou em luta comigo, a maior parte do tempo, e, por isso, consigo lidar melhor com os meus pensamentos, com as minhas vontades e com os meus receios.
Isto vai muito além de se estar gorda ou magra. Está acima do amor dos outros, do trabalho de todos os dias, das responsabilidades que se têm de cumprir. Este tempo interno existe na mesma proporção que me sei ser. Ser pessoa que não precisa de compensações externas para se conseguir serenar, nem para lidar com as dificuldades dos dias.
Não me perguntem como é que isto se consegue, porque eu não vou saber explicar. A única coisa que eu sei é que este autoconhecimento me tem trazido a capacidade de tomar melhores decisões, me tem feito ser audaz, me tem possibilitado ser melhor (comigo) a cada dia que passa. Estar magra, ou lá o que é isto que estou, é “só” uma consequência deste trabalho.
Porque no fim de contas, independentemente de todas as pessoas que passam ou passarão na nossa vida, há uma que perdurará no tempo até ao fim: nós mesmos. Eu não sabia viver comigo. Ainda estou a aprender. Estou a melhorar. Sabe bem. Que perdure no tempo e que eu não me esqueça mais do bom que é viver sem uma guerra interior.
Maravilhoso, Joana!
Olá Joana. Texto exemplar e inspirador. Tal como se fala por aí há sempre dias melhores e piores, mas deve ser bom estar mais vezes “nos dias bons”. Não entendo porque é tão difícil encontrar o equilíbrio no nosso estado emocional e de espírito. Obrigada.