Mês: setembro 2018

Sobre o esforço

Hoje foi o dia perfeito para não me mexer: trabalhei muito e estive naquela fase do mês feminino em que me apeteceu partir a cara a qualquer ser que olhasse, sequer, para mim de uma maneira que não me agradasse tanto. Eu estive mesmo pronta para fazer uma massa com bacon e natas, comer até deitar pelos olhos, e enfiar-me na cama a ver séries. Isso foi o que o meu corpo inchado e molengão me pediu o dia todo.

Porém, se eu desse sempre ouvidos às sensações que o meu corpo me transmite, ainda estaria obesa. Ainda estaria a desdizer a minha imagem e a lamentar o facto de nunca mais celebrar a conquista dos objetivos que sempre quis. Por isso, e com muito sacrifício, lá me arrastei para o treino. Lambi aquele chão. Lambi-o de fio a pavio, até ter a certeza que não deixava nada por limpar. No final? Senti-me muito melhor do que estava antes.

Agora, já na cama, a escrever este texto, percebo que a massa com natas não fez assim tanta falta, que as séries ainda têm lugar e que o meu corpo mais não passa do que uma criança mimada a quem não se pode fazer as vontadinhas todas. O esforço compensa sempre. Sempre. E mesmo que não consiga dar sempre o meu máximo, preciso, no mínimo, de ter a certeza que fiz por valer a pena. Hoje fiz.

Aprende

Aprende: deves ouvir mais do que falas.
Aprende: deves calar-te mais do que te comprometes.
Aprende: deves agir mais do que apenas pensas ou supões.
Aprende: deves esforçar-te mais do que achas necessário.
Aprende: deves fazer mais perguntas do que dar respostas.
Aprende: deves perceber mais antes de lançares as críticas.
Aprende: deves tentar mais vezes do que aquelas que desistes.
Aprende: deves andar mais para a frente do que olhar para trás.
Aprende: deves ser tu mais vezes, mesmo que os outros não estejam preparados para ti.
Mas protege-te o suficiente. No final, até a tua barriga, que é tua, às vezes te dói.

Sobre um tempo interno

Passamos a vida a dizer que não temos tempo. Eu era uma dessas pessoas. Ainda sou um pouco. Ultimamente, tenho-me esforçado para ter tempo comigo e o que tenho vindo a descobrir, é um tempo muito valioso, que eu não conhecia. Nunca me tinha permitido a viver, porque estava incapaz de fazê-lo.

Eu não gostava de estar sozinha comigo. Os meus pensamentos, as minhas angústias, os meus medos, estavam sempre a minar a minha paz. Eu era (ainda sou) muito ansiosa. Acho que esta ansiedade foi crescendo comigo e que era uma das causas que me levava a comer. A comer muito, sem pensar. Para sentir. Para me acalmar.

Eu queria estar sempre com gente à minha volta, precisava do barulho alheio, para me esquecer do meu silêncio podre. Porque quando estava sozinha, fazia disparates, maltratava-me. Odiava a pessoa que era, a minha imagem, o meu corpo. Detestava o sentimento da falha permanente, da impossibilidade de atingir os meus objetivos, que não passavam de sonhos.

Este trabalho, de estar sozinha comigo, tem sido muito interessante de se viver. Aos poucos, tenho dado por mim, sozinha, a perceber que estou tranquila. A sentir que está tudo bem, e o que não está, ficará. Dou por mim a ter a certeza que já não estou em luta comigo, a maior parte do tempo, e, por isso, consigo lidar melhor com os meus pensamentos, com as minhas vontades e com os meus receios.

Isto vai muito além de se estar gorda ou magra. Está acima do amor dos outros, do trabalho de todos os dias, das responsabilidades que se têm de cumprir. Este tempo interno existe na mesma proporção que me sei ser. Ser pessoa que não precisa de compensações externas para se conseguir serenar, nem para lidar com as dificuldades dos dias.

Não me perguntem como é que isto se consegue, porque eu não vou saber explicar. A única coisa que eu sei é que este autoconhecimento me tem trazido a capacidade de tomar melhores decisões, me tem feito ser audaz, me tem possibilitado ser melhor (comigo) a cada dia que passa. Estar magra, ou lá o que é isto que estou, é “só” uma consequência deste trabalho.

Porque no fim de contas, independentemente de todas as pessoas que passam ou passarão na nossa vida, há uma que perdurará no tempo até ao fim: nós mesmos. Eu não sabia viver comigo. Ainda estou a aprender. Estou a melhorar. Sabe bem. Que perdure no tempo e que eu não me esqueça mais do bom que é viver sem uma guerra interior.

Compulsão Alimentar

“Compulsão alimentar é uma doença mental em que a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome, e que não deixa de se alimentar apesar de já estar satisfeita. Pessoas com compulsão alimentar comem grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo.” 

Durante toda a minha vida fui apelidada de gulosa. Ou grande parte dela, vá. As pessoas à minha volta achavam que eu era gorda porque comia muito, o que era verdade, mas julgo que achavam que podia parar de comer e emagrecer se assim o quisesse.

Não. Todas as dietas que fiz falharam. O que eu tive, o que eu tenho ainda hoje, é uma doença, que me levou a comer doses descontroladas de comida, para lidar com situações difíceis que vivi. O que eu tive, o que eu tenho ainda hoje, está muito além do pecado da gula.

É um assunto sério, que eu vivi, mas já não vivo, em silêncio absoluto. Eu estive gorda porque comia muito, para me fazer mal, para me castigar, para compensar. Falo disto assim porque sei que, como eu, há milhares de pessoas a passar pelo mesmo. A viver de vergonha. A esconder.

A compulsão alimentar é uma realidade que precisa de ser discutida com seriedade. É uma doença que, apesar de ter manifestações físicas, tem outras, psicológicas, muito, mas mesmo muito mais graves. É urgente falar disto. É urgente dar voz a quem sofre disto. Se não for por mais nada, este blogue já valeu a pena.

Férias para quê?

As férias são uma catástrofe. Não há horários. Não há disciplina. Não há regras. As férias são uma verdadeira catástrofe. Se durante o resto do ano ainda me consigo controlar minimamente, quando me apanho com ordem de soltura é o fim do mundo em cuecas.

Gelados? São aos dois por dia. Bolas de Berlim? O senhor não ia passar por mim em vão, não é!? Pão com manteiga e petiscos? Como assim, ia negar? E pimbas, é o que se vê: não há calças que me sirvam, não sei o que vou vestir para voltar ao trabalho.

Já imagino o que vou sofrer, uma sala cheia de miúdos, com um calor insuportável e eu de calças apertadíssimas. É o fim! Mas quem me mandou comer que nem uma pequena lontra, quem foi? Quem me mandou quebrar a dieta? Quando a cabeça não tem juízo…

Mas agora começou setembro e eu vou mudar. Vou mudar à séria: acabou-se o pão, o arroz, a massa, as batatas, as tostas. Acabaram-se os refrigerantes, os bolinhos e as sobremesas. Aliás, acabou-se tudo o que implica comer. Fome. Eu preciso é de passar fome!

Grelhados e cozidos. Zero hidratos. Nem fruta vou comer, só para dar aqui um abanão ao meu corpo. Talvez até experimente um daqueles planos detox… Até ao Natal perco os quilos das férias e os outros todos que já tinha de perder. Agora é que é! Sim, sim!

Se conseguir perder 5 quilos por mês, são 20 quilos até ao Natal. É isso! Depois, no Natal, lá me encharco de coisas boas. Não hei-de ganhar 20 quilos em duas semanas. Bem, vamos a isto, que eu tenho de recuperar das férias. Ai, as férias deram mesmo cabo de mim!

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Este seria o meu estado há uns anos. Provavelmente, começaria uma nova dieta, muito restritiva, que acabaria por falhar algumas semanas após o seu início. Hoje, não só sinto que as férias não deram cabo de mim, como tenho a tranquilidade de voltar à rotina, sem extremismos.

O que nos faz perder peso, sem o voltar a ganhar, é a consistência. O trabalho de todos os dias, de alimentação equilibrada e de treino regular. Sou pelo fim das dietas. Sou pelas férias livres, mas com cabeça. Sou pelo caminho longo, nunca pelos atalhos. Sou pelo cuidado com que trato de mim. Todos os dias.