Mês: fevereiro 2018

Açúcar, nunca mais?

[Nas cachoeiras do Brasil, a exibir o tanquinho.]

Não como açúcar PROCESSADO há 60 dias. Desde que anunciei esta decisão, tenho sido bombardeada com questões: mas não comes porquê? Queres ficar mais magra? Que mal tem comer só de vez em quando? Não estás a exagerar? Até quando vais fazer isso? É para sempre?

Eu não sou extremista, não gosto de fundamentalismos, mas em relação ao açúcar tenho algumas convicções. Estas convicções são sustentadas pela ciência, mas não só. Surgem, também, da minha experiência de dietas sem fim e dos meus episódios de compulsão alimentar, que me atormentaram durante anos. É sobre tudo isto, este texto.

Posso começar por escrever que o açúcar é algo que traz ZERO benefícios à nossa existência. Pelo contrário: só traz MALEFÍCIOS. Um deles é o vício. Lá chegarei. Se precisamos de açúcar para viver? Claro que sim! A fruta e os amidos, como a batata doce e o arroz, dão-nos tudo o que precisamos a esse nível.

Em termos científicos, pode dizer-se que para perder massa gorda há um requisito: estar em défice calórico. Ou seja: tem de se gastar mais calorias do que aquelas que se ingerem. Claro que há mil e uma formas de o fazer… Se é possível consumir açúcar processado e perder massa gorda? É. Traz algum benefício? ZERO. Os açúcares são calorias vazias, por isso, têm nenhum valor nutricional. Logo, se o caminho que tenho feito tem sido o de comer para me nutrir…

A única coisa que podemos todos concordar é que o açúcar sabe bem. Mexe com tudo! É um grande prazer momentâneo, de muito curta duração. Usei os alimentos com açúcar como conforto durante anos a fio. Eu era viciada em açúcar. Ficava de ressaca se não o comesse. Assumo-o e falo disso porque sei que posso ajudar outros.

Tenho aprendido que vida é feita de escolhas e prioridades e, por isso, dei por mim a levantar algumas questões. O que é que me dá mais prazer: comer um pedaço de bolo e ter de 30 segundos de fogo de artifício nas papilas gustativas ou ver-me ao espelho, ou em fotografias, e ter prazer em ver o meu próprio corpo?

Mais, o que será mais importante: comer por prazer ou ter o prazer de perceber que o meu corpo é capaz de coisas que nunca tinha imaginado, fisicamente falando. Quando é que na minha vida me imaginei como atleta? Nunca! Nunca, porque sempre pus o prazer fácil e instantâneo à frente do que agora venho a descobrir.

Neste sentido, esta minha decisão será para sempre? Nem eu serei eterna, graças a Deus. Não sei. Agora sei que não vejo motivo de voltar a comer uma coisa que me desestabiliza a imensos níveis: o humor, a pele, a força, o desempenho atlético, a vontade de comer mais.

A isto tudo acresce o facto de ter tido um distúrbio alimentar mais que diagnosticado. Trabalhei esta coisa de ter de conseguir comer só uma bolacha do pacote, mas fui muitas vezes mal sucedida. Na verdade, basta pensar num ex-alcoólico: alguém lhe daria um copo de vinho para a mão e lhe diria para beber apenas um golo? Ou pedir a um ex-fumador para dar apenas um bafo? Comigo é mais ou menos isto.

Habituámo-nos a comer açúcar, mas basta irmos a alguns lugares no mundo para percebemos que há gente que vive lindamente sem ele. Experimentemos ir Alaska dar um cubo de açúcar a um esquimó ou a índio de uma tribo remota. Qual será a reação deles?

Por tudo isto, reforço apenas uma ideia: neste momento as minhas prioridades mudaram. Com elas chegaram novos prazeres, novas formas de estar. Neste momento o açúcar PROCESSADO não tem lugar na minha vida. Passaram 60 dias, creio que passarão muitos mais. Talvez até deixe de os contar.

Nós somos mais!

Há pessoas que me lêem com quem já troquei inúmeras mensagens. Pessoas que vou acompanhando, por termos lutas semelhantes, por querermos o mesmo: a melhor versão de nós.

Há pessoas que me lêem desde o início e outras há pouco tempo. Isso interessa pouco. Interessa a quantidade de histórias que vou conhecendo através deste blogue.

Histórias de gente que entende esta minha vida, porque também a tem, porque também a quer, mesmo que ainda não tenha encontrado o seu caminho, mas que vai andando e me vai dando feedback dos recuos e dos avanços.

Ontem, recebi umas mensagens muito queridas. Dizia a pessoa que havia uma coisa da qual eu não me devia nunca esquecer: que para além deste corpo que hoje eu tenho, há uma coisa em mim que brilha mais.

É o meu testemunho autêntico, é a minha superação diária, é a minha vontade de viver, de ser feliz e, como bónus, ainda ter a sorte de poder inspirar outros a fazer o mesmo.

Escrevia: tu és mais do que o teu corpo. Os teus abdominais estão incríveis, é certo, mas é esse brilho no olhar e essa garra que mais entusiasma quem te lê. E bolas, eu quero que isso seja mesmo assim.

Quero muito que se possam inspirar e melhorar a vossa imagem, mas quero muito, como quero para mim, que possam ser mais: mais saudáveis, mais fortes, mais capazes, mais livres, mais felizes, mais ou menos magros, mais ou menos definidos, mais ou menos atléticos.

Mais inteiros de dentro para fora. Nós somos mais. Façamos apenas com que o nosso corpo acompanhe o resto, o que dá um jeitão em montes de coisas. Mesmo.

(Quase) 4 anos de treino

Neste momento, considero-me uma atleta. Não que pudesse participar nos Jogos Olímpicos e tivesse a chance de ganhar uma medalha de ouro, nada disso. Mas, ao dia de hoje, eu sinto-me uma atleta. Ou antes: eu olho para o meu corpo e vejo-me com uma forma atlética.

Eu sempre quis ser magra. Magra, mesmo magra. Nunca consegui isso. Acho que nunca conseguirei, na verdade. Porém, com o tempo, percebi que o corpo que eu achava que queria, nunca esteve ao meu alcance. Porque há coisas que, por muito que queiramos, não serão diferentes.

Com o avançar deste processo de me tornar uma Perna Fina, fui percebendo, e continuo a perceber, que o treino é absolutamente fundamental nisto tudo. Na maioria das vezes em que tentei perder peso, fi-lo a passar fome. Apenas em duas das tentativas fiz exercício.

O que é que acontecia? Eu perdia peso, mas não construía músculo, não ficava tonificada. Era assim uma cena, nem gorda, nem magra, meia molecas. Eu não gostava de treinar. Eu não queria treinar. Eu (achava que) não tinha jeito para treinar.

Quase 4 anos depois de ter iniciado o Crossfit, percebo, e estou irremediavelmente convicta, que o meu corpo está assim porque eu treino muito, de forma consciente. Porque eu como bem, também, mas não é sobre isso que agora quero escrever.

Eu treino muito e treino de forma diversificada. Faço trabalho de força, vulgarmente conhecido como musculação, faço trabalho cardiovascular, aquele que me põe a arfar e faço trabalho acessório, onde me dedico a trabalhar especificamente algumas parte do corpo.

Às vezes dizem-me que tenho sorte. É verdade, eu tenho alguma sorte. Mas, no caso da forma atlética que hoje carrego comigo, não sei se lhe chamaria sorte. Há 4 anos que me dedico a isto e que me empenho à seria.

Aprendi a gostar de treinar e sinto-me bem a fazê-lo. Não tenciono ter um corpo perfeito, nem ser atleta profissional, mas agrada-me esta coisa de ter força, de ser rápida, de ter alguns músculos. Isso agrada-me muito. E talvez esta tenha sido uma das maiores mudanças.

Acredito que nem todos os que me lêem possam fazer estes treinos loucos que faço, por variadas razões. Mas, acredito também, que temos ao nosso dispor uma quantidade imensa de informação que nos pode ajudar a ser mais autónomos e a mexer qualquer coisa.

Há uma parte muito séria e importante: ninguém ache que do dia para a noite vai correr uma maratona. É muitas vezes nestes casos, quando se vai com demasiada sede ao pote, que se arranjam lesões e que se fica a odiar o exercício para sempre.

Começar a caminhar, a fazer umas flexões, uns abdominais… Empurrar coisas, puxar coisas, treinar o agachamento. Ver tutoriais no YouTube, ler livros, consultar sites, dar uns socos… Este foram os melhores 4 anos da minha vida. Foram muito suados. Foram sorte? São esforço!

Caminho Solitário

Este caminho que tenho feito, é um caminho muito solitário. Não quero parecer ingrata perante as pessoas que me têm ajudado, mas há uma parte que ninguém pode fazer por mim. É esse o caminho solitário.

Eu tentei trilhar este caminho inúmeras vezes. Falhei por muitas razões, a principal talvez tenha sido a [falta de] noção do que me levava a querer perder peso. Porquê? Para quê? Por quem?

Eu vivi muitos anos da aprovação dos outros. Queria perder peso porque queria que me vissem como uma miúda gira, cujo corpo condizia com a personalidade extrovertida, simpática e quase sempre alegre.

Portanto, eu queria perder peso para ser aprovada, para usar as roupas que as outras miúdas usavam, para agradar àquele rapaz da escola, para ser igual, ou o mais parecida possível com as minhas colegas.

Por isso, nem sempre foi por mim que quis fazer isto. Foi pela aceitação alheia, pela ideia quase ingénua de poder mudar por fora, sem mudar por dentro. Como se isso fosse possível. Como se isso tivesse efeitos a longo prazo. Não teve.

Neste sentido, este é um caminho solitário. Porque é uma coisa que devo fazer, e quero fazer, de mim, para mim, por mim. É um caminho solitário, algumas vezes egoísta, mas é um caminho feito com passos consistentes. Conscientes.

Este é um caminho que eu espero sem volta. É um caminho que tentei começar há muito, para me qual me preparei a vida inteira. É um caminho muito meu, com algumas e boas ajudas, mas que ninguém o pode fazer por mim.