gelado

Eu sempre tive um enorme poder de encaixe, alimentarmente falando. Quer dizer, na infância não. Era uma lingrinhas, que mal comia. Mas depois chegou a puberdade e, sabe-se lá porquê, passei a comer tudo o que não tinha comido até àquele momento. Foi assim durante muitos anos. Era capaz de acompanhar qualquer adulto que comesse mesmo bem, ficando ali taco-a-taco no que a quantidades de comida ingerida dizia respeito.

Entre amigos, comecei a dizer que tinha um grande poder de encaixe. Afinal, os outros ficavam cheios de depressa. Eu, aceitava sempre mais uma colher de sobremesa. Era sempre a primeira a experimentar as novidades que iam saindo no mercado: sumos, gelados, salgados, o que fosse. Toda a gente parecia achar graça a esta minha caraterística. Até eu achei, durante um período de tempo.

Depois o peso chegou, ficou, e foi um ai Jesus. O que interessa aqui é que desde que comecei a mudar de vida, o meu poder de encaixe reduziu significativamente. Hoje já não sou a última a acabar de comer e muitas vezes sobra comida no meu prato. Se comer demasiado ao almoço, provavelmente ao jantar mal comerei, porque ainda não serei capaz de comer, acabando por ter como refeição uma taça de gelatina com fruta, por exemplo.

O meu poder de encaixe mudou e, no meu caso, é um ótimo sinal. Na gíria costuma dizer-se que o estômago aumenta e diminui de tamanho, consoante a quantidade de comida que ingerimos ao longo do tempo. Há até aquela célebre frase: quantos mais comemos, mais querermos comer e vice-versa. Deve ter sido isso que aconteceu comigo.

O meu estômago já não é capaz de suportar os banquetes doutros tempos. E a verdade é que se me estico fico imediatamente enfartada, cheia de azia, com a barriga inchadíssima. Um horror. São estas mudanças que me deixam muito feliz. Quase tão feliz como por ter perdido peso. São estas diferenças que me fazem, todos os dias, não querer voltar ao que já fui.

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