Mês: fevereiro 2015

Regresso ao passado #3

Odeio a escola. Todos os dias tenho de lidar com estupores que gozam comigo por causa do meu corpo. Fazem-me crer que sou monstruosamente gorda, estranhamente feia. Os rapazes gozam comigo. As raparigas também. E as que mais me chamam nomes não são mais magras, nem mais bem feitas que eu. Mas juntaram-se ao grupo e eu tornei-me um alvo fácil. Vaca. Baleia. São as ofensas mais levezinhas. Todos os dias. Todos os dias. Nem vale a pena dizer aos professores: eles não se vão meter com aquela gente. Se os castigarem ainda têm de ouvir os pais e as mães deles a dizer que “nesta idade é absolutamente normal gozar-se com os outros”, que “faz parte do crescimento, da entrada na idade adulta”. NÃO, NÃO FAZ! Eu tenho o direito de estar na escola e aprender em paz. Ou será que não tenho?

Não tenho coragem de contar isto aos meus pais. Tenho a certeza que se o meu pai souber vai à escola dar uma cabeçada nos meus colegas e ainda se mete em trabalhos. Eu não quero isso. E a minha mãe? Não quero que se enerve. Eu aguento mais uns meses disto. As férias da Páscoa estão quase a chegar e o 3.º período passa num instante. Até pode ser que eles se cansem de gozar comigo, que encontrem outra distração. O pior de tudo é que as miúdas que eu julgava serem minhas amigas se juntaram a eles. São umas cobardes. “Temos medo deles, Joana”, dizem-me elas por mensagem. “Amanhã não vamos contigo para a escola.” Logo amanhã, que é dia de educação física. Vou ter de me equipar nos balneários. Vou ter de correr à volta do campo. Vou ter de fazer parte da equipa que for a última a escolher.

Odeio a escola. Mesmo assim, tenho conseguido manter as notas e isso irrita-os. Mesmo assim, continuo a ter a atenção dos professores, que investem em mim. Mesmo assim, vou à escola todos os dias e enfrento-os de novo a cada manhã. O que será da minha vida quando o 7.º ano acabar? E o 8.º? E o 9.º? Será que terei de os continuar a ver? Acho que alguns vão chumbar e desistir da escola. Talvez nunca mais tenha de os ouvir. Talvez um dia até possa passar por eles e sentir-me bem comigo. Isso ia deixá-los tão furiosos…

Alarme hídrico

Há já duas ou três consultas que a minha doutora ralha comigo por beber menos líquidos do que preciso. Todos sabemos que beber água faz bem a uma porradona de coisas, entre elas a perda de peso e a eliminação de líquidos em excesso no organismo. No meu caso, por praticar CrossFit três vezes por semana, a água revela-se também fundamental na recuperação muscular. Apesar de saber isto tudo, tenho bebido pouquíssimos líquidos. Tenho sempre uma garrafa de água na secretária, até porque passo o dia a falar com os miúdos e as minhas cordas vocais estão longe de terem uma saúde espetacular, mas ultimamente a mesma garrafa tem permanecido intacta dias a fio. Acho que é do frio: não me apetece beber água, pronto. Sim, eu sei que posso fazer chá, que até me vai aquecer, mas olha, não tenho cumprido nada disso.

Hoje voltei ao trabalho e trouxe comigo uma garrafa de um litro e meio de tisanas e, para garantir que a bebia mesmo, pus um alarme no telemóvel que tocou a cada vinte e cinco minutos. Sempre que o toque se fez ouvir, pimba: eu emborquei um copo de tisanas. Às onze da manhã já a garrafa ia a meio e a seguir ao almoço já a tinha quase acabado. Percebi que consigo aumentar a quantidade de líquidos facilmente, como em tudo na vida, se for metódica e persistente. Este alarme hídrico é capaz de ter sido a melhor invenção dos últimos tempos. Senhores das apps, não querem criar uma aplicação qualquer para regular o consumo de água das pessoas? Ah bolas, fui confirmar e já existe! Lá se foi a minha oportunidade de ficar milionária e de ir passear o meu corpinho para as Maldivas por tempo indeterminado.

O problema não era meu, era das luvas

(Como sou uma menina, e ainda tento proteger o meu corpo dalgumas das brutalidades vividas no CrossFit, uso sempre luvas.)

Hoje tive de me pendurar na maldita da barra, mas, como sempre, caí ao fim de cinco repetições. Às tantas, o treinador disse que se eu tirasse as luvas e enchesse as mãos de magnésio, seria capaz de fazer as doze repetições seguidas, sem cair, porque já tenho força para isso. Eu, que sou uma rapariga muito obediente (NOT), lá tirei as luvas e enchi as mãos daquele pó branco, que me faz tossir como cão molhado. E não é que até ao final do WOD fiz as 12 repetições, a cada minuto, sem cair? É, fiz mesmo! As minhas mãos? Ficaram perto da carne viva, mas isso tem pouca importância. O treinador ainda acrescentou: “Tens de ganhar calo. Um dia vai deixar de doer. Não uses luvas. Não valem a pena.” Não sei quando deixará de doer. Sei que para já tenho as mãos cobertas de Halibut, para ver se cicatrizam até quarta-feira. Ai!

Salmão grelhado com esparguete de curgete e cogumelos

Ingredientes (para 2 pessoas):
– 2 filetes de salmão;
– 2 curgetes;
– 1 lata de cogumelos laminados;
– 1 pacote de natas de soja;
– Sumo de 1 limão;
– 2 dentes de alho;
– Azeite, sal e pimenta q.b.

Preparação:
1.º Temperar os filetes com sal, pimenta e sumo de limão, deixando marinar durante 15 minutos (no mínimo);
2.º Pôr uma panela com água ao lume, até ferver;
3.º Lavar muito bem a curgete e cortá-la em forma de esparguete. (Eu usei um espiralizador de vegetais);
4.º Mergulhar o esparguete na água fervente e deixar cozer durante 1 minuto (no máximo). Escorrer e reservar;
5.º Colocar um fio de azeite no wok, deixar aquecer um pouco e colocar os cogumelos e os dentes de alho esmagados;
6.º Depois dos cogumelos fritarem um pouco, juntar o espaguerte para saltear;
7.º Grelhar o salmão numa chapa antiaderente, durante cerca de 3 minutos de cada lado;
8.º Enquanto o salmão cozinha, juntar um pouco de natas de soja aos vegetais e envolver bem.

Eu não resisti e juntei uns pedaços de queijo à “massa”. Um sucesso!

Deliciem-se, Pernas Finas!

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Je t’aime forever, Nutella!

Eu já sabia que, como eu, há muitos nutellodependentes por esse mundo fora e eu sinto-me feliz por fazer parte dessa vasta comunidade. O que eu não sabia é que o melhor género alimentício do mundo inteiro tinha um dia internacional, que se celebra hoje. As redes sociais estão cheias de imagens, todas muito sugestivas, e eu dei por mim a salivar como um boxer em plena corrida. Porém, devo dizer que esta distinção não muda em nada o amor que tenho àqueles boiões de puro prazer e deleite. É que a nossa relação já tem muitos anos. É uma relação fiel, sem zangas, nem discussões. Por isso, neste dia internacional, sinto-me na obrigação de reforçar os meus votos: amo-te, querida Nutella. Ou, citando uma das maiores pensadoras dos tempos modernos – Cátia Palhinha – Je t’aime forever, Nutella. Je t’aime forever!

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Só fiz merda!

Desculpem o meu palavreado, Pernas Finas, mas estou mesmo pior que estragada. Hoje o treino teve montes de movimentos complicados e eu saí de lá com a sensação de que só fiz merda. A minha maior dificuldade é pendurar-me na barra, presa ao teto, e balançar o meu corpo, ao mesmo tempo que contraio os abdominais e mais uma série de coisas que AINDA não consigo fazer. Tenho as mãos feitas num 8, os abdominais que não os sinto e as pernas a tremer.

Deixo um vídeozinho só para terem noção do que falo.

“Not a good rep. Not a good rep.” Argh!

Sonhos

dream

Magra. Bronzeada. Cabelo comprido. Foi sempre assim que me imaginei nos sonhos bons. Hoje percebo que esta condição de ser feliz comigo foi adiada porque nunca a quis verdadeiramente, porque nunca me empenhei das entranhas. A imagem que tinha de mim, mas que não via quando me observava, está cada vez mais perto. E às vezes até parece mentira. Até parece mentira que já não como quando me sinto infeliz. Até parece mentira que o meu rabo está a crescer. Até parece mentira que consigo repetir um agachamento 120 vezes seguidas. Até parece mentira que esta mulher esteve sempre dentro de mim, aprisionada, aos gritos, cheia de vontade de sair e de se mostrar. A verdade é que tudo isto existia apenas à distância da minha vontade. A verdade é que os sonhos se podem tornar reais. Se quisermos muito. E eu nunca quis nada assim.

Dicionário de Perna Fina #1

co·ra·gem
(francês courage)
substantivo feminino
1. Firmeza de ânimo ante o perigo, os reveses, os sofrimentos.
2. [Figurado] Constância, perseverança (com que se prossegue no que é difícil de conseguir).

P.S. Esta é em tua honra, querida Joana.

in: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Dias loucos #1

A propósito de um trabalho sobre as horas, que hoje fiz com os meus alunos, dei por mim a pensar no caos que é o meu dia. Ou melhor, pensei em como faço uma quantidade enorme de coisas e o meu corpo, e a minha alma, não me deixam ficar mal. Vantagens duma Perna Fina.

6:10 – Abro os olhos pela primeira vez. Tenho a esperança que seja domingo e eu tenha posto mal o alarme.
7:15 – Pequeno-almoço. A melhor refeição do dia: pão sem glúten, queijo de barrar, fiambre, leite (sem lactose) e café.
7:40 – Chegada ao colégio. Meia zombie, é certo, mas a tempo de ter tudo pronto à chegada dos 23 pequenos seres mais importantes da minha vida.
8:30 – Início do trabalho com os miúdos. Vêm do fim de semana cheios de novidades. As segundas-feiras começam sempre com barulho.
10:30 – Primeiro lanche do dia. Uma lata de atum por dia, não sabe o músculo que lhe fazia.
11:00 – Correção dos trabalhos de casa. São duas horinhas à Benfica.
13:00 – Almoço do bem. Caril de camarão, bem picante.
14:00 – Regresso ao trabalho com os miúdos. Tempo de estabelecer novos objetivos para cada um.
15:15 – Vómito em jato. Uma aluna, ‘tadinha, vomita imenso e eu quase vomito por cima dela. Mesas, cadeiras, cadernos. Vómito everywhere.
16:00 – Segundo lanche do dia. Ainda com o estômago às voltas, engoli rapidamente dois quivis.
16:30 – Reunião de professores. Nós, os professores, falamos muuuito.
19:00 – Mais trabalho com alunos. Quem corre por gosto…
20:15 – Terceiro lanche do dia. Rodelas de batata doce cozida com canela. A minha doutora desafiou-me a comer batata doce antes do treino, com a promessa de um melhor desempenho. A minha doutora nunca me falha.
20:30 – CrossFit. Wallballs. Deadlifts. E mais uma carradona de coisas. Maravilha.
21:30 – Última refeição do dia. Batido de proteína logo no final do treino. A “janela da oportunidade” para queimar gordura e ganhar músculo.
22:00 – Chegada a casa. Xixi. Banho. Cama.

Amanhã há mais.