Disseste-me tu hoje, irmão. Tudo porque insisti contigo ao pequeno-almoço para vires correr comigo e porque te chateei por estares a comer manteiga com torradas, se é que me entendes. O que eu acho que tu querias dizer era: “Cala-te, pá. Sempre foste gorda e eu sempre fui magro. Sempre fizeste dietas e eu sempre comi tudo o que quis. Oops, agora tu estás magra e eu estou gordo. Mesmo assim, isso não te dá o direito de me dizer que tenho de pôr menos manteiga no pão e que tenho de começar a correr, se não quero ver a minha vida amorosa arruinada para sempre, dado o tamanho da minha barriga.”
Isto era o que tu me querias dizer. Em vez disso, disseste só que AGORA eu sou uma dondoca e que tenho a mania que sei tudo sobre comida, exercício e blá, blá, blá. Irmão, uma dondoca, segundo o dicionário, é uma mulher com grande poder económico que tem uma vida fútil e ociosa. Parece-te que encaixo na definição? Onde anda o meu poder económico?
A nossa mãe vai ler isto e achar que é uma vergonha estarmos lavar a roupa suja da família na internet, mas talvez assim tu me dês atenção. Põe-te nesta ideia: tu já tiveste melhores dias. E, por isso, tens mesmo de parar de comer sushi 10 vezes por semana, por exemplo. Tens de começar a comer fruta, que não comes nenhuma, e alargar a ingestão de legumes, não te ficando só p’la alface.
E tens de mexer esse rabo gordo e peludo. Eu sei que dá trabalho, eu sei (oh lá se sei), mas a vida não é mel, querido irmão. Tens sempre a opção de continuar gordo. No teu caso, isto torna-se particularmente assustador, considerando que tens uma isca a menos, vulgo rim, e se calhar, também por isso, devias evitar as pizas, as batatas fritas and so on, and so on.
Caro irmão, vê lá se me ouves com mais atenção. Eu sei que sou chata e que às vezes sou bruta, não fosse eu uma Perna Fina, mas digo-te estas coisas só porque te quero bem. Tu tens potencial de Brad Pitt, eu sei que tens. Basta que te empenhes um bocadinho.
Desta dondoca que te adora,
Perna Fina.