Acabei de chegar a casa, vinda do supermercado. O dia foi cansativo e eu sinto-me chateada. Das compras do dia trouxe duas merendas mistas, uma coca-cola e um chocolate de passas e avelãs. Porque eu mereço. Porque é o que me apetece. Porque é o que me satisfaz. Tenho tanta fome que nem me consigo descalçar. Pondero, até, se devo lavar as mãos, tal não é a gana.

Atiro com os folhados para cima de um prato, abro a lata de coca-cola e aterro no sofá. Enquanto como, sem pensar muito no que estou a fazer, consulto o feed do facebook. Tantas coisas a acontecerem com tanta gente que conheço. Comigo não. Eu prefiro estar aqui, tranquila, a comer e a beber. Termino as merendas e, sem respirar, avanço para o chocolate. Deixo de estar sentada, porque deitada me sabe melhor.

Como já vi todas as novidades do facebook, acendo a televisão. Boa, está a dar o Biggest Loser. Eu não mudo de canal, porque adoro ver o programa. Enquanto isso, continuo a dar cabo do chocolate. Passados uns minutos, eu já comi e bebi tudo o que comprei. Arrumo tudo e guardo as embalagens no lixo, como se nunca tivessem estado ali. Como se eu não as tivesse comprado nunca. Muito menos tivesse comido o que quer que fosse.

Vejo aqueles americanos obesos e a minha consciência começa a pesar. Merda, penso eu, traí-me outra vez. Ainda hoje de manhã, quando acordei, prometi a mim mesma que não ia comer nada que me fizesse mal. No fim de semana prometi que era esta semana que ia começar a caminhar. Em vez disso estou aqui, deitada no sofá. Bolas, agora o estômago começou a doer. Eu já fui avisada: a minha hérnia no estômago não tolera grandes quantidades de comida e o chocolate, então, é dinamite para o meu refluxo gástrico.

Tenho comigo a conversa de sempre: acabou, Joana, isto acabou hoje. Estás parva ou quê? Tens necessidade de comer isto tudo? Tinhas assim tanta fome, tinhas? Tu até sabes o que tens de evitar. Tu até sabes o que comer quando estás de dieta. Dieta.

Eu odeio fazer dieta. Mas tem de ser. Tem mesmo de ser. Amanhã é um novo dia e eu vou ser capaz de me controlar. Se calhar, aceito o que fiz e bebo um chá. Sim, um chá vai ajudar-me a digerir a porcaria toda que comi. Para já, continuo deitada no sofá à espera que a água ferva. Nunca bebo o chá até ao fim. Deixo-o no copo, a arrefecer, juntamente com as promessas diárias que faço. Talvez um dia leve isto a sério. Hoje não é o dia.

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